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51 Anos com 51 boAs i<strong>de</strong>iAs<br />
Antes <strong>de</strong> tudo, é preciso<br />
acreditar no potencial<br />
O PROPMARK ouviu profissionais do mercado sobre o que vem<br />
a ser uma boa i<strong>de</strong>ia, tema <strong>de</strong>ste especial dos 51 anos do jornal. A<br />
<strong>maio</strong>ria <strong>de</strong>les concorda que uma i<strong>de</strong>ia genial é em geral simples<br />
Claudia Penteado<br />
Uma vez conversava<br />
com um redator<br />
e dizia a ele o quanto<br />
respeito a coragem<br />
dos profissionais que<br />
escolhem trabalhar<br />
em criação <strong>de</strong> agência,<br />
on<strong>de</strong> suas i<strong>de</strong>ias po<strong>de</strong>m<br />
custar milhões e<br />
contribuir para mexer<br />
seriamente nas finanças<br />
<strong>de</strong> empresas – para<br />
o bem e para o mal.<br />
Ele me dizia que é preciso,<br />
<strong>de</strong> fato, acreditar<br />
muito no potencial das<br />
próprias i<strong>de</strong>ias.<br />
Fico imaginando um<br />
criativo apresentando<br />
corajosamente a i<strong>de</strong>ia<br />
do projeto Dumb Ways<br />
to Die. Ou o filme da<br />
tartaruga ou do caranguejo,<br />
da Brahma. Ou<br />
os roteiros dos filmes <strong>de</strong><br />
Bombril...? Demanda<br />
autoestima, acima <strong>de</strong><br />
tudo, acho eu. Penso<br />
que o que leva profissionais<br />
aos <strong>de</strong>partamentos <strong>de</strong><br />
criação é a crença na própria<br />
capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ter boas i<strong>de</strong>ias,<br />
acompanhada da confiança <strong>de</strong><br />
vendê-las e um <strong>de</strong>sejo intenso<br />
<strong>de</strong> colocá-las no mundo.<br />
E é claro que não é simples.<br />
Mas a <strong>maio</strong>ria concorda<br />
que uma boa i<strong>de</strong>ia, em geral,<br />
é simples, tão simples que no<br />
instante seguinte parece que<br />
sempre existiu, <strong>de</strong> tanta “liga”<br />
com o universo. É fácil reconhecer<br />
uma boa i<strong>de</strong>ia. E é fácil<br />
dizer, <strong>de</strong>pois que ela foi gerada,<br />
a famosa frase: “Como eu<br />
não pensei nisso antes?”<br />
Outro efeito <strong>de</strong> uma boa<br />
i<strong>de</strong>ia: costuma dar inveja.<br />
Muita inveja. Olivetto chama<br />
<strong>de</strong> “inveja saudável”. Mas acho<br />
que, na <strong>maio</strong>ria dos casos, é<br />
uma bruta inveja mesmo, daquelas<br />
<strong>de</strong> remoer no cantinho.<br />
Mas não se po<strong>de</strong> esquecer<br />
nunca <strong>de</strong> que uma i<strong>de</strong>ia é apenas<br />
uma i<strong>de</strong>ia. Conversando<br />
sobre o assunto com diversas<br />
pessoas – cujas opiniões estão<br />
compiladas nas páginas 107,<br />
108 e 109 – percebi que a <strong>maio</strong>ria<br />
separa a sugestão recém-<br />
-concebida nos miolos daquilo<br />
que vai <strong>de</strong> fato para o concreto,<br />
se materializa, se digitaliza, o<br />
que for. Uma i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong>ve ganhar<br />
“corpo”, forma, para passar a<br />
existir. Essas, sim, são as boas<br />
i<strong>de</strong>ias (quando elas se mantêm<br />
boas <strong>de</strong> fato, materializadas).<br />
Hugo Veiga, da AKQA, conta<br />
que uma vez um dupla lhe<br />
disse, em meio a um brainstorming<br />
frustrante, a seguinte<br />
frase: “Se uma árvore cai na<br />
floresta e ninguém viu, será<br />
que caiu <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>?”.<br />
Isso o fez perceber que, em<br />
geral, os criativos são mais conhecidos<br />
pelo que fazem do<br />
Brian A Jackson/Shutterstock<br />
que pelas i<strong>de</strong>ias que têm.<br />
Veiga também fala que uma<br />
boa i<strong>de</strong>ia é algo muito frágil,<br />
que temos o <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> proteger.<br />
Até <strong>de</strong> nós próprios. Porque,<br />
com o avanço da tecnologia,<br />
tornou-se mais fácil e simples<br />
materializá-la. E o resultado<br />
po<strong>de</strong> ser bem... ruim.<br />
O escritor Robert Greene<br />
diz, em seu livro Maestria, que<br />
todos nós temos um “po<strong>de</strong>r<br />
latente” <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> nós. Porque<br />
durante milhões <strong>de</strong> anos<br />
fomos caçadores, coletores e<br />
<strong>de</strong>senvolvemos cérebros altamente<br />
adaptáveis e criativos. E<br />
continuamos com esse mesmo<br />
cérebro caçador-coletor <strong>de</strong>ntro<br />
do crânio (já isso quem disse<br />
foi o Richard Leakey, paleoantropólogo<br />
queniano).<br />
Greene acredita em uma<br />
forma <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r e inteligência<br />
que representa o ápice do potencial<br />
humano. Em fases <strong>de</strong><br />
criativida<strong>de</strong> excepcional, impelidos<br />
pela necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
fazer algo prático – resolver<br />
uma crise, cumprir um prazo<br />
–, saímos da concha e da segurança<br />
das i<strong>de</strong>ias habituais<br />
para nos conectarmos com o<br />
mundo e nos tornarmos inspirados,<br />
criativos, brilhantes.<br />
Depois do prazo cumprido, o<br />
sentimento <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r e criativida<strong>de</strong><br />
quase sempre se esvai<br />
(a menos que você seja, por<br />
exemplo, David Droga ou John<br />
Hegarty, claro).<br />
Imagino que até o final do<br />
livro eu aprenda a manter meu<br />
brilhantismo ocasional mais<br />
presente. Mas, enquanto isso,<br />
vamos às visões sobre esse<br />
gran<strong>de</strong> enigma chamado “a<br />
boa i<strong>de</strong>ia” <strong>de</strong> um bocado <strong>de</strong><br />
gente que <strong>de</strong>ve ser brilhante<br />
quase o tempo todo.<br />
106 <strong>23</strong> <strong>de</strong> <strong>maio</strong> <strong>de</strong> <strong>2016</strong> - jornal propmark