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edição de 23 de maio de 2016

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51 Anos com 51 boAs i<strong>de</strong>iAs<br />

Antes <strong>de</strong> tudo, é preciso<br />

acreditar no potencial<br />

O PROPMARK ouviu profissionais do mercado sobre o que vem<br />

a ser uma boa i<strong>de</strong>ia, tema <strong>de</strong>ste especial dos 51 anos do jornal. A<br />

<strong>maio</strong>ria <strong>de</strong>les concorda que uma i<strong>de</strong>ia genial é em geral simples<br />

Claudia Penteado<br />

Uma vez conversava<br />

com um redator<br />

e dizia a ele o quanto<br />

respeito a coragem<br />

dos profissionais que<br />

escolhem trabalhar<br />

em criação <strong>de</strong> agência,<br />

on<strong>de</strong> suas i<strong>de</strong>ias po<strong>de</strong>m<br />

custar milhões e<br />

contribuir para mexer<br />

seriamente nas finanças<br />

<strong>de</strong> empresas – para<br />

o bem e para o mal.<br />

Ele me dizia que é preciso,<br />

<strong>de</strong> fato, acreditar<br />

muito no potencial das<br />

próprias i<strong>de</strong>ias.<br />

Fico imaginando um<br />

criativo apresentando<br />

corajosamente a i<strong>de</strong>ia<br />

do projeto Dumb Ways<br />

to Die. Ou o filme da<br />

tartaruga ou do caranguejo,<br />

da Brahma. Ou<br />

os roteiros dos filmes <strong>de</strong><br />

Bombril...? Demanda<br />

autoestima, acima <strong>de</strong><br />

tudo, acho eu. Penso<br />

que o que leva profissionais<br />

aos <strong>de</strong>partamentos <strong>de</strong><br />

criação é a crença na própria<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ter boas i<strong>de</strong>ias,<br />

acompanhada da confiança <strong>de</strong><br />

vendê-las e um <strong>de</strong>sejo intenso<br />

<strong>de</strong> colocá-las no mundo.<br />

E é claro que não é simples.<br />

Mas a <strong>maio</strong>ria concorda<br />

que uma boa i<strong>de</strong>ia, em geral,<br />

é simples, tão simples que no<br />

instante seguinte parece que<br />

sempre existiu, <strong>de</strong> tanta “liga”<br />

com o universo. É fácil reconhecer<br />

uma boa i<strong>de</strong>ia. E é fácil<br />

dizer, <strong>de</strong>pois que ela foi gerada,<br />

a famosa frase: “Como eu<br />

não pensei nisso antes?”<br />

Outro efeito <strong>de</strong> uma boa<br />

i<strong>de</strong>ia: costuma dar inveja.<br />

Muita inveja. Olivetto chama<br />

<strong>de</strong> “inveja saudável”. Mas acho<br />

que, na <strong>maio</strong>ria dos casos, é<br />

uma bruta inveja mesmo, daquelas<br />

<strong>de</strong> remoer no cantinho.<br />

Mas não se po<strong>de</strong> esquecer<br />

nunca <strong>de</strong> que uma i<strong>de</strong>ia é apenas<br />

uma i<strong>de</strong>ia. Conversando<br />

sobre o assunto com diversas<br />

pessoas – cujas opiniões estão<br />

compiladas nas páginas 107,<br />

108 e 109 – percebi que a <strong>maio</strong>ria<br />

separa a sugestão recém-<br />

-concebida nos miolos daquilo<br />

que vai <strong>de</strong> fato para o concreto,<br />

se materializa, se digitaliza, o<br />

que for. Uma i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong>ve ganhar<br />

“corpo”, forma, para passar a<br />

existir. Essas, sim, são as boas<br />

i<strong>de</strong>ias (quando elas se mantêm<br />

boas <strong>de</strong> fato, materializadas).<br />

Hugo Veiga, da AKQA, conta<br />

que uma vez um dupla lhe<br />

disse, em meio a um brainstorming<br />

frustrante, a seguinte<br />

frase: “Se uma árvore cai na<br />

floresta e ninguém viu, será<br />

que caiu <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>?”.<br />

Isso o fez perceber que, em<br />

geral, os criativos são mais conhecidos<br />

pelo que fazem do<br />

Brian A Jackson/Shutterstock<br />

que pelas i<strong>de</strong>ias que têm.<br />

Veiga também fala que uma<br />

boa i<strong>de</strong>ia é algo muito frágil,<br />

que temos o <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> proteger.<br />

Até <strong>de</strong> nós próprios. Porque,<br />

com o avanço da tecnologia,<br />

tornou-se mais fácil e simples<br />

materializá-la. E o resultado<br />

po<strong>de</strong> ser bem... ruim.<br />

O escritor Robert Greene<br />

diz, em seu livro Maestria, que<br />

todos nós temos um “po<strong>de</strong>r<br />

latente” <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> nós. Porque<br />

durante milhões <strong>de</strong> anos<br />

fomos caçadores, coletores e<br />

<strong>de</strong>senvolvemos cérebros altamente<br />

adaptáveis e criativos. E<br />

continuamos com esse mesmo<br />

cérebro caçador-coletor <strong>de</strong>ntro<br />

do crânio (já isso quem disse<br />

foi o Richard Leakey, paleoantropólogo<br />

queniano).<br />

Greene acredita em uma<br />

forma <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r e inteligência<br />

que representa o ápice do potencial<br />

humano. Em fases <strong>de</strong><br />

criativida<strong>de</strong> excepcional, impelidos<br />

pela necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

fazer algo prático – resolver<br />

uma crise, cumprir um prazo<br />

–, saímos da concha e da segurança<br />

das i<strong>de</strong>ias habituais<br />

para nos conectarmos com o<br />

mundo e nos tornarmos inspirados,<br />

criativos, brilhantes.<br />

Depois do prazo cumprido, o<br />

sentimento <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r e criativida<strong>de</strong><br />

quase sempre se esvai<br />

(a menos que você seja, por<br />

exemplo, David Droga ou John<br />

Hegarty, claro).<br />

Imagino que até o final do<br />

livro eu aprenda a manter meu<br />

brilhantismo ocasional mais<br />

presente. Mas, enquanto isso,<br />

vamos às visões sobre esse<br />

gran<strong>de</strong> enigma chamado “a<br />

boa i<strong>de</strong>ia” <strong>de</strong> um bocado <strong>de</strong><br />

gente que <strong>de</strong>ve ser brilhante<br />

quase o tempo todo.<br />

106 <strong>23</strong> <strong>de</strong> <strong>maio</strong> <strong>de</strong> <strong>2016</strong> - jornal propmark

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