inspiração Filipe Cubero/Divulgação avenida vida Executivo da Dentsu afirma que a primeira coisa que lembrou ao ouvir a palavra inspiração foi Avenida Paulista, em São Paulo. "Um verda<strong>de</strong>iro livro <strong>de</strong> antropologia a céu aberto" 120 <strong>23</strong> <strong>de</strong> <strong>maio</strong> <strong>de</strong> <strong>2016</strong> - jornal propmark
Mario D’Andrea é presi<strong>de</strong>nte e CCO da Dentsu Alê Oliveira MARIO D’ANDREA Especial para o PROPMARK Avenida Paulista. Essa foi a primeira coisa que me veio à cabeça quando me perguntaram sobre inspiração. Claro, po<strong>de</strong>ria falar <strong>de</strong> alguns dos milhares <strong>de</strong> filmes que já assisti. O último, por exemplo: Truman. Um filme imperdível – nem que seja apenas para ver um ator ser capaz <strong>de</strong> fazer sombra ao gran<strong>de</strong> Ricardo Darín. No caso, falo <strong>de</strong> um ator espanhol chamado Javier Cámara. Ou po<strong>de</strong>ria falar <strong>de</strong> qualquer livro <strong>de</strong> Stephen King, o mestre em contar histórias absurdas <strong>de</strong> forma absolutamente plausível. Cujo, o cão raivoso? Sim, plausível. Christine, um carro assassino? Claro, plausível. Po<strong>de</strong>ria ainda voltar no tempo e citar algumas letras do The Who, minha banda <strong>de</strong> cabeceira – todas elas criadas pelo gênio Pete Townshend. Mas não. A primeira coisa que lembrei ao ouvir a palavra inspiração foi Avenida Paulista. Explico: um amigo, jornalista e escritor, me contou um truque que usava durante o processo <strong>de</strong> criação <strong>de</strong> um livro. Ele sentava-se aleatoriamente em praças e cafés e observava as pessoas. E tentava <strong>de</strong>scobrir as histórias por trás <strong>de</strong> cada pessoa observada. Após algum tempo, a “história” mais interessante fazia com que ele, o escritor, seguisse a pessoa por quase todo o dia – claro, sem ser notado. Acompanhava os passos, os lugares, os encontros <strong>de</strong>ssa pessoa, sempre mantendo uma segura distância. Apenas para apren<strong>de</strong>r com ela, viajar em sua vida cotidiana. Claro, nunca cheguei a tanto. Mas confesso que morri <strong>de</strong> inveja <strong>de</strong>sse amigo escritor. Porque não foram poucas as vezes que fiquei andando por ruas e praças apenas pelo prazer <strong>de</strong> observar as pessoas. E tentar <strong>de</strong>scobrir as histórias que existem por trás <strong>de</strong> cada uma <strong>de</strong>las, tentar captar seus sentimentos e adivinhar suas angústias. De todos os lugares em que fiz isso, aqui ou no exterior, um <strong>de</strong>les é especial para mim: a Avenida Paulista. Um verda<strong>de</strong>iro livro <strong>de</strong> antropologia a céu aberto. Um gran<strong>de</strong> estudo <strong>de</strong> sociologia, ali, na minha frente. São milhares <strong>de</strong> “dados” <strong>de</strong>sfilando pelas calçadas. “Dados” a serem arquivados na memória e um dia utilizados para um insight ou uma campanha. Por exemplo: aquela velhinha, sentada na galeria do Conjunto Nacional, vestindo um elegante casaco <strong>de</strong> lã xadrez, com cheiro <strong>de</strong> armário. Quem ela está esperando? Seria o filho, que nunca aparece? Aquele casal <strong>de</strong> garotas, andando pela calçada <strong>de</strong> mãos dadas, apaixonadas. E aliviadas, sem se preocupar com algum idiota <strong>de</strong> plantão, o tipo <strong>de</strong> idiota que existe aos montes em seu bairro distante – inclusive <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> suas famílias. Aquele velho lutador <strong>de</strong> boxe, um brasileiro duas vezes campeão mundial, atravessando ao meu lado a Paulista no cruzamento com a Augusta, atordoado com a multidão que passa por ele sem sequer o reconhecer. O que passa pela cabeça confusa <strong>de</strong>sse senhor, uma das <strong>maio</strong>res glórias do seu esporte? O rapaz tocando sax no primeiro <strong>de</strong>grau da escadaria do Gazeta, lançando notas ao ar, como bolhas <strong>de</strong> sabão. On<strong>de</strong> ele teria aprendido a tocar <strong>de</strong>ssa forma tão sublime? E por que um sax? Se fosse um violão, será que seu chapéu ali na calçada não teria mais dinheiro? Vejo tudo isso andando, imaginando. Caminho por entre essas histórias. Sento a uma mesinha na calçada. Tomo café com cada um <strong>de</strong>sses personagens, mesmo sem eles perceberem. E sorrio. Porque, para mim, a vida real é sempre mais criativa e apaixonante do que a ficção. Truque “...um amigo, jornalista e escritor, me contou um truque que usava durante o processo <strong>de</strong> criação <strong>de</strong> um livro. Ele sentava-se aleatoriamente em praças e cafés e observava as pessoas. E tentava <strong>de</strong>scobrir as histórias por trás <strong>de</strong> cada pessoa observada” Banda <strong>de</strong> cabeceira... “Po<strong>de</strong>ria ainda voltar no tempo e citar algumas letras do The Who, minha banda <strong>de</strong> cabeceira – todas elas criadas pelo gênio Pete Townshend” Phovoir/Shutterstock Anthony Money/Shutterstock Dilvugação Imperdível Os atores Javier Cámara e Ricardo Darín em cena <strong>de</strong> Truman, filme que Mario D’Andrea recomenda e diz “ser imperdível” jornal propmark - <strong>23</strong> <strong>de</strong> <strong>maio</strong> <strong>de</strong> <strong>2016</strong> 121