Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
última página<br />
LuckyN/Shutterstock<br />
tudo é<br />
propaganda<br />
Stalimir Vieira<br />
Nada como o que estamos vivendo no<br />
Brasil para compreen<strong>de</strong>rmos a força<br />
da propaganda. Des<strong>de</strong> que foi aventada a<br />
i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> afastar a presi<strong>de</strong>nte Dilma do cargo<br />
que os produtos “impeachment” e “golpe”<br />
passaram a disputar a preferência dos brasileiros.<br />
Enquanto Michel Temer, garoto-<br />
-propaganda do “impeachment”, sempre<br />
guardou a serenida<strong>de</strong> <strong>de</strong> “quem está com<br />
a razão”, petistas, porta-vozes do “golpe”,<br />
<strong>de</strong>monstram uma inflamada indignação, típica<br />
também <strong>de</strong> “quem está com a razão”.<br />
Técnicas opostas com o mesmo<br />
objetivo: ven<strong>de</strong>r seus produtos.<br />
Do ponto <strong>de</strong> vista estético, o lado<br />
do Temer venceu a disputa, mesmo<br />
junto ao povão. Talvez tenha a<br />
ver com o aspiracional, que a gente<br />
tanto <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> nas estratégias<br />
para nossos clientes.<br />
Um dos gran<strong>de</strong>s problemas do<br />
governo Dilma, tirante as questões<br />
mais afeitas aos intelectuais<br />
para uma análise histórico-sociopolítica,<br />
foi a feiura. Visualmente,<br />
quando sua gente se agrupava era um <strong>de</strong>sastre.<br />
Há quem <strong>de</strong>fenda, em nome <strong>de</strong> uma<br />
diversida<strong>de</strong> politicamente correta, que é<br />
assim que <strong>de</strong>ve ser. O fato, porém, é que<br />
isso não funciona para efeito <strong>de</strong> propaganda<br />
e, portanto, não ven<strong>de</strong>. Goebbels ajudou<br />
a conquistar as massas para Hitler primando<br />
pelo bom gosto na comunicação.<br />
A imensa <strong>maio</strong>ria dos brasileiros ainda<br />
não enten<strong>de</strong>u patavina do que Temer<br />
e sua turma falaram. Mas já percebeu que<br />
se trata <strong>de</strong> uma gente mais alinhada, mais<br />
agradável à vista. Com relação ao conteúdo<br />
– os discursos –, outra <strong>de</strong>rrota acachapante<br />
para os petistas, em que pese o idioma<br />
“estranho” do Temer. Ocorre que a divulgação<br />
das gravações <strong>de</strong> Lula e família foram<br />
“A imensA<br />
mAioriA dos<br />
brAsileiros<br />
AindA não<br />
enten<strong>de</strong>u<br />
pAtAvinA do<br />
que temer e<br />
suA turmA<br />
fAlArAm”<br />
<strong>de</strong>terminantes para uma importante constatação:<br />
clima <strong>de</strong> pago<strong>de</strong>, feijoada e caipirinha<br />
é bacana, mas não o tempo todo. Mesmo<br />
as pessoas mais simples gostam <strong>de</strong> falar<br />
sério no horário do expediente.<br />
Serieda<strong>de</strong> que nem Dilma passava com<br />
suas trapalhadas verbais, que até po<strong>de</strong>riam<br />
compor uma personagem carismática, se<br />
nela não fossem percebidas apenas como a<br />
mais genuína estupi<strong>de</strong>z. Derrotada na forma<br />
e no conteúdo, a marca “golpe” foi per<strong>de</strong>ndo<br />
valor e hoje só significa alguma coisa<br />
para a militância petista e alguns outros.<br />
A presi<strong>de</strong>nte afastada e seus<br />
aliados cometem um erro terrível<br />
<strong>de</strong> marketing, ao permanecerem<br />
abraçados a esse conceito que já<br />
não emociona, se é que algum dia<br />
emocionou.<br />
Por outro lado, a marca “impeachment”<br />
foi absorvida, apesar<br />
<strong>de</strong> grafia e pronúncia difíceis ou,<br />
quem sabe, por isso mesmo. “Golpe”<br />
é chavão <strong>de</strong>sgastado, é um recurso<br />
do varejo político ordinário;<br />
impeachment, digamos, é termo<br />
jurídico elegante. O que se percebe, e aqui<br />
me arrisco a incluir o imaginário popular, é<br />
uma absoluta falta <strong>de</strong> criativida<strong>de</strong> dos interessados<br />
na consagração do conceito <strong>de</strong><br />
“golpe”.<br />
Nada foi produzido para, efetivamente,<br />
justificar o engajamento com ele. Todo o<br />
time envolvido com a sua <strong>de</strong>fesa mostrou-<br />
-se medíocre em termos <strong>de</strong> comunicação.<br />
Nessa área, aliás, as bobagens começaram<br />
lá atrás, com a tentativa <strong>de</strong> impor um <strong>de</strong>sagradável<br />
“presi<strong>de</strong>nta”, em que pese toda a<br />
rejeição à expressão.<br />
O PT parece aquele anunciante teimoso,<br />
que, mesmo per<strong>de</strong>ndo share, insiste em<br />
manter uma house tocada por amigos.<br />
Stalimir Vieira é diretor da Base Marketing<br />
stalimircom@gmail.com<br />
162 <strong>23</strong> <strong>de</strong> <strong>maio</strong> <strong>de</strong> <strong>2016</strong> - jornal propmark