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edição de 23 de maio de 2016

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última página<br />

LuckyN/Shutterstock<br />

tudo é<br />

propaganda<br />

Stalimir Vieira<br />

Nada como o que estamos vivendo no<br />

Brasil para compreen<strong>de</strong>rmos a força<br />

da propaganda. Des<strong>de</strong> que foi aventada a<br />

i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> afastar a presi<strong>de</strong>nte Dilma do cargo<br />

que os produtos “impeachment” e “golpe”<br />

passaram a disputar a preferência dos brasileiros.<br />

Enquanto Michel Temer, garoto-<br />

-propaganda do “impeachment”, sempre<br />

guardou a serenida<strong>de</strong> <strong>de</strong> “quem está com<br />

a razão”, petistas, porta-vozes do “golpe”,<br />

<strong>de</strong>monstram uma inflamada indignação, típica<br />

também <strong>de</strong> “quem está com a razão”.<br />

Técnicas opostas com o mesmo<br />

objetivo: ven<strong>de</strong>r seus produtos.<br />

Do ponto <strong>de</strong> vista estético, o lado<br />

do Temer venceu a disputa, mesmo<br />

junto ao povão. Talvez tenha a<br />

ver com o aspiracional, que a gente<br />

tanto <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> nas estratégias<br />

para nossos clientes.<br />

Um dos gran<strong>de</strong>s problemas do<br />

governo Dilma, tirante as questões<br />

mais afeitas aos intelectuais<br />

para uma análise histórico-sociopolítica,<br />

foi a feiura. Visualmente,<br />

quando sua gente se agrupava era um <strong>de</strong>sastre.<br />

Há quem <strong>de</strong>fenda, em nome <strong>de</strong> uma<br />

diversida<strong>de</strong> politicamente correta, que é<br />

assim que <strong>de</strong>ve ser. O fato, porém, é que<br />

isso não funciona para efeito <strong>de</strong> propaganda<br />

e, portanto, não ven<strong>de</strong>. Goebbels ajudou<br />

a conquistar as massas para Hitler primando<br />

pelo bom gosto na comunicação.<br />

A imensa <strong>maio</strong>ria dos brasileiros ainda<br />

não enten<strong>de</strong>u patavina do que Temer<br />

e sua turma falaram. Mas já percebeu que<br />

se trata <strong>de</strong> uma gente mais alinhada, mais<br />

agradável à vista. Com relação ao conteúdo<br />

– os discursos –, outra <strong>de</strong>rrota acachapante<br />

para os petistas, em que pese o idioma<br />

“estranho” do Temer. Ocorre que a divulgação<br />

das gravações <strong>de</strong> Lula e família foram<br />

“A imensA<br />

mAioriA dos<br />

brAsileiros<br />

AindA não<br />

enten<strong>de</strong>u<br />

pAtAvinA do<br />

que temer e<br />

suA turmA<br />

fAlArAm”<br />

<strong>de</strong>terminantes para uma importante constatação:<br />

clima <strong>de</strong> pago<strong>de</strong>, feijoada e caipirinha<br />

é bacana, mas não o tempo todo. Mesmo<br />

as pessoas mais simples gostam <strong>de</strong> falar<br />

sério no horário do expediente.<br />

Serieda<strong>de</strong> que nem Dilma passava com<br />

suas trapalhadas verbais, que até po<strong>de</strong>riam<br />

compor uma personagem carismática, se<br />

nela não fossem percebidas apenas como a<br />

mais genuína estupi<strong>de</strong>z. Derrotada na forma<br />

e no conteúdo, a marca “golpe” foi per<strong>de</strong>ndo<br />

valor e hoje só significa alguma coisa<br />

para a militância petista e alguns outros.<br />

A presi<strong>de</strong>nte afastada e seus<br />

aliados cometem um erro terrível<br />

<strong>de</strong> marketing, ao permanecerem<br />

abraçados a esse conceito que já<br />

não emociona, se é que algum dia<br />

emocionou.<br />

Por outro lado, a marca “impeachment”<br />

foi absorvida, apesar<br />

<strong>de</strong> grafia e pronúncia difíceis ou,<br />

quem sabe, por isso mesmo. “Golpe”<br />

é chavão <strong>de</strong>sgastado, é um recurso<br />

do varejo político ordinário;<br />

impeachment, digamos, é termo<br />

jurídico elegante. O que se percebe, e aqui<br />

me arrisco a incluir o imaginário popular, é<br />

uma absoluta falta <strong>de</strong> criativida<strong>de</strong> dos interessados<br />

na consagração do conceito <strong>de</strong><br />

“golpe”.<br />

Nada foi produzido para, efetivamente,<br />

justificar o engajamento com ele. Todo o<br />

time envolvido com a sua <strong>de</strong>fesa mostrou-<br />

-se medíocre em termos <strong>de</strong> comunicação.<br />

Nessa área, aliás, as bobagens começaram<br />

lá atrás, com a tentativa <strong>de</strong> impor um <strong>de</strong>sagradável<br />

“presi<strong>de</strong>nta”, em que pese toda a<br />

rejeição à expressão.<br />

O PT parece aquele anunciante teimoso,<br />

que, mesmo per<strong>de</strong>ndo share, insiste em<br />

manter uma house tocada por amigos.<br />

Stalimir Vieira é diretor da Base Marketing<br />

stalimircom@gmail.com<br />

162 <strong>23</strong> <strong>de</strong> <strong>maio</strong> <strong>de</strong> <strong>2016</strong> - jornal propmark

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