90 Favorável: Quando se forma um cientista, este tem que saber como a ciência é construída, e não apenas o resultado final. A imagem que fica do cientista quando se dá enfoque descontextualizado, ahistórico, é de um ser anormal, isso não corresponde à realidade, o cientista é uma pessoa normal, susceptível a erros. Conforme Koyré: "A HC nos revela o espírito humano no que ele tem de mais alto, em sua busca incessante, sempre insatisfeita e sempre renovada, de um objetivo que sempre lhe escapa: a busca da verdade...O caminho na direção da verdade é cheio de ciladas e semeado de erros e neles os fracassos são mais freqüentes do que os sucessos. Fracassos, de resto, por vezes tão reveladores e instrutivos quanto os êxitos. Assim cometeríamos um engano se desprezássemos o estudo dos erros; é através deles que o espírito progride em direção à verdade". Contra1: Concordo, aprendemos mais com erros do que com acertos! Favorável: Além do mais, eu vejo a utilidade do conhecimento histórico para o pr<strong>of</strong>essor de física no sentido dele ser capaz de ensinar melhor o conteúdo do que está nos livros. Contra1: A nossa colega chegou ao ponto em que eu considero o ápice da discussão: como a HC pode ajudar na aprendizagem. Agora sugiro direcionarmos a discussão para o ensino em nível secundário. Contra2: Mas espere um momento, como ensinar HC se o tempo didático disponível no ensino médio não permite ensinar o desenvolvimento histórico da ciência? Favorável: Mas meu caro, não ensinamos todo o conhecimento científico produzido, também não pretendemos que toda a HF seja ensinada. Contra2: Eu sei que não ensinamos todo o conhecimento produzido mesmo em uma única ciência, como a física... Favorável: Pois então, dentro desse conteúdo selecionado podemos adequar o ensino histórico ao tempo didático, enfatizando a filos<strong>of</strong>ia da comunidade científica da época, um pouco do contexto social, político e econômico, enfim, o contexto histórico. Você não considera importante que esses pr<strong>of</strong>essores que irão ensinar física no 1º e 2º graus, ou seja, ensinar física para a população em geral, conheçam a HF? Aí vocês têm que saber porque ensinar física e que física? Quando se pensa no segundo grau vem à cabeça a física que prepara para o vestibular. No entanto, a maioria dos alunos não tem acesso à universidade e mesmo os que lá chegam, em sua maioria, não irão estudar física. Então é preciso discutir que física e como ensiná-la, com ou sem HF? Realmente é preciso que se discuta como inserir neste ensino a HF para passar ao aluno muito mais do que simples fórmulas matemáticas sem sentido, algo que eu chamaria de cultura científica. É evidente, no entanto, que a HF não deve substituir a formação conceitual. As luzes da sala se acendem. É o fim de um debate e o começo de um outro que certamente extrapolará os limites físicos da sala de aula. Referências bibliográficas 1.MATTHEWS, M.R. História, filos<strong>of</strong>ia e ensino de ciências: a tendência atual de reaproximação. Caderno Catarinense de Ensino de Física, 12(3): 164-214, 1995. 2. ZANETIC, J. Física também é cultura. Tese de doutorado, FEUSP, São Paulo, 1989.
91 3. PEDUZZI, L.O.Q. Sobre a utilização didática da história da ciência. In.: PIETROCOLA, M. (Org.) Ensino de Física: conteúdo, metodologia e epistemologia numa concepção integradora. Editora UFSC (no prelo). 4. CHALMERS, A.F. O que é ciência, afinal. São Paulo, <strong>Brasil</strong>iense, 1993. 5. MARCZWSKI, M. & VÉLEZ, E. Ciências biológicas, volume 1. São Paulo, FTD,1999. 6. MESA-REDONDA: Influência da história da ciência no ensino de física. Caderno Catarinense de Ensino de Física, 5(Número Especial): 7-22, 1988. 7. REVISTA DO PROVÃO , n.5, Brasília, 2000. 8. MOREIRA, M.A. & OSTERMANN, F. Sobre o ensino do método científico. Caderno Catarinense de Ensino de Física, 10 (2): 108-117, 1993.