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José Osvaldo De Meira Penna

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numerosa - o que imediatamente associa à demografia o fenômeno econômico<br />

examinado. As famílias dos proletários em Roma eram aquelas que tinham uma<br />

prole imensa, sendo seus filhos varões adolescentes a única contribuição que<br />

podiam oferecer aos interesses da República, mobilizáveis que eram para as<br />

legiões do império em expansão. Essa prole numerosa sobreviveu, a partir da<br />

Revolução Industrial, à mortalidade infantil e adulta, graças aos progressos da<br />

medicina, às facilidades de transporte e ao aumento da produtividade agrícola.<br />

Acentua Hayek, enfaticamente, que o sofrimento econômico passou a ser mais<br />

conspícuo e parecer menos justificável porque a riqueza estava crescendo<br />

rapidamente e porque os pobres da roça se estavam transferindo para as cidades.<br />

Escreve o grande economista austríaco (op. cit, p. 18): "Enquanto há evidência de<br />

que grande miséria existia, não há prova de que era maior ou mesmo tão grande<br />

quanto antes. Os conjuntos de grande número de casas baratas dos trabalhadores<br />

industriais eram provavelmente muito mais feios do que as vilas dos trabalhadores<br />

agrícolas ou domésticos; e certamente pareciam mais alarmantes para o<br />

proprietário de terra ou o patrício das cidades do que tinham sido os pobres,<br />

dispersados pelo campo. Mas para aqueles que se haviam transferido da zona<br />

rural para a cidade, significava uma melhora de condições".<br />

A indignação com as condições de afavelamento em Manchester e<br />

Birmingham, em meados do século XIX, se registava não entre empresários dos<br />

Midlands e do Norte do arquipélago, mas entre os intelectuais, políticos e<br />

burocratas de Londres, e membros das classes nobres latifundiárias que<br />

reconheciam nos industriais "arrivistas" seus rivais e competidores. A intelligentsia<br />

londrina se recrutava nesses meios. A indignação "social" dos londrinos com as<br />

condições de miséria, fome e degradação moral era sempre manifestada por<br />

pessoas que nunca haviam visitado os bairros pobres das cidades industriais. <strong>De</strong><br />

modo semelhante no Brasil: lembro-me da surpresa manifestada por um político<br />

"liberal" de esquerda americano, Robert Kennedy, que nos visitou em 1965,<br />

quando descobriu que nenhum dos estudantes, que lhe denunciavam as<br />

pavorosas condições vigentes nas favelas do Rio, haviam jamais posto um pé<br />

nessas favelas. Quando certa vez também pedi a um padre amigo meu, de<br />

tendências "progressistas", que me levasse a uma favela, refugou a ideia que<br />

considerou um capricho perigoso.<br />

Ora, cabe insistir que não nega Hayek em momento algum, nem podemos<br />

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