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José Osvaldo De Meira Penna

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omântico, o nacionalismo e o socialismo. A natureza absolutamente explosiva do<br />

marxismo resulta, precisamente, da combinação dialética de uma praxis de luta<br />

inexpiável entre as classes com a teoria esperançosa de cessação final de todo<br />

conflito, pela supressão da propriedade privada, a eliminação da concorrência<br />

capitalista e a imposição da "justiça social" através da "ditadura do proletariado" -<br />

na realidade uma ditadura totalitária dos clérigos ou intelectuais. O princípio da<br />

homonoia em Platão e Aristóteles implica o "mesmo pensamento", o "espírito<br />

uniforme", a dogmática de harmonia e paz na terra aos homens de boa vontade (o<br />

que também os nazistas pregavam como Gleichshaltung). Não há pluralismo<br />

nesse sistema. Não há concorrência. No socialismo é a religião civil que reúne (religa-re)<br />

os homens numa mesma comunidade harmônica, justa e de convicções<br />

uniformes. Ela é trazida à terra e torna-se totalitária.<br />

Em virtude de nossa educação jesuítica, da tradição política autoritária, da<br />

estrutura social conservadora e da influência "romântica" sobre nossa cultura<br />

incipiente do pensamento dogmático de Santo Tomás, Rousseau, Comte e Marx, é<br />

a noção de comunidade harmônica, a homonoia, preferida à ideia de liberdade.<br />

Numa sociedade extremamente heterogênea e conflitiva como a nossa, talvez<br />

possa ser indicada a insistência no Bem Geral uniformizado. A tese possui a<br />

vantagem adicional, subliminar, de assegurar os privilégios perenes do poder<br />

patrimonialista e corporativista. Se nosso país já foi descrito como o do "homem<br />

cordial" (Cassiano Ricardo, Sérgio Buarque de Holanda) ou da "delicadeza"<br />

(Keyserling) ou do "povo da amizade" (Bernanos), é porque detestamos as<br />

manifestações violentas e flagrantes de concorrência no terreno político, social,<br />

racial ou econômico. Só aceitamos a competição no âmbito do lúdico: no futebol,<br />

nos concursos de beleza, na loteria ou na premiação das escolas de samba. Forte<br />

ainda é o catolicismo e seu ideal de Bem Comum. Nas duras condições da<br />

existência terrena, a concorrência tem que se exprimir com o "jeitinho bem<br />

brasileiro". Quem exibe com excessiva franqueza sua competitividade, eficiência<br />

ou capacidade de performance é visto como grosseiro, consumista e deselegante<br />

(sendo talvez essa a razão da frequente ojeriza aos americanos que fizeram da<br />

livre competição, under the law, o próprio fundamento constitucional de sua<br />

nacionalidade). Sobretudo a partir da República, tornou-se parte da tradição<br />

costumeira em nossa cultura, sob a tríplice e contraditória inspiração do<br />

catolicismo, do positivismo comteano, vigorante nas Forças Armadas, e do<br />

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