José Osvaldo De Meira Penna
José Osvaldo De Meira Penna
José Osvaldo De Meira Penna
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
desenvolvimento industrial e na organização democrática em relação aos países<br />
europeus de origem católica ou ortodoxa. Curiosamente, essa constante parece<br />
ser mesmo independente da ideologia e do sistema político e social reinante, eis<br />
que a antiga "República <strong>De</strong>mocrática Alemã" e a Tchecoslováquia, com os regimes<br />
comunistas que sofriam, possuíam mais alta renda per capita do que a Polônia e a<br />
Hungria, igualmente comunistas, porém católicas. Se formularmos um quadro das<br />
Etapas de Crescimento segundo W. Rostow, verificaremos facilmente o avanço<br />
dos países de extração puritana como os Estados Unidos, a Inglaterra, a Suíça e<br />
os Países Baixos; ou de extração luterana, como a Alemanha e a Escandinávia.<br />
As exceções que foram apresentadas para desmentir a tese não são<br />
consideráveis: a Bélgica, que constitui a parte meridional dos Países Baixos,<br />
sofreu o poderoso influxo da Reforma mas permaneceu católica por força de<br />
fatores externos, entre os quais se salienta a reconquista da Contra-Reforma sob<br />
a espécie dos terços espanhóis do duque de Alba. A ética protestante teria agido,<br />
nesse caso, por osmose - tal como ocorreu nos cantões católicos da Suíça e nos<br />
estados católicos da Alemanha meridional. A outra exceção é a França. Sabemos,<br />
porém, que a França representa uma espécie de zona de transição entre a<br />
Latinidade mediterrânica e o Germanismo nórdico. O influxo da Reforma em<br />
França foi considerável, desde o final da dinastia dos Valois até Luís XIV, com sua<br />
revogação do Édito de Nantes. Durante algum tempo, a opção final francesa<br />
esteve em jogo e, após longa luta civil, a decisão foi tomada por Henrique IV<br />
quando observou que "Paris bem vale uma missa"... Em pleno reino absolutista de<br />
Luís XIV, o fenômeno do jansenismo, procedente da Bélgica, revela o impacto da<br />
ética protestante rigorista e pietista sobre o próprio catolicismo francês.<br />
É evidente que, quando equacionamos protestantismo e desenvolvimento<br />
democrático, não desejamos de modo algum estabelecer uma relação de causa e<br />
efeito. Nem foi essa a intenção de Weber. Para usar a própria expressão do<br />
grande sociólogo, haveria apenas uma como que "afinidade eletiva" entre a ética<br />
protestante e o espírito do capitalismo. Diríamos que foram fatores culturais<br />
ponderáveis que agiram para favorecer a opção protestante na Europa<br />
atormentada do século XVI. Numa fórmula simples, consideraríamos a<br />
superioridade da educação sobre a superstição, da Bíblia sobre o Index Librorum<br />
Prohibitorum, da leitura sobre o analfabetismo, da informação sobre a ideologia,<br />
do pensamento sobre o dogma, da ética sobre o erotismo, da responsabilidade<br />
137