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José Osvaldo De Meira Penna

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adequado para a superação de uma situação reconhecida como insatisfatória. O<br />

imperativo do "desenvolvimento" brasileiro se prende, talvez, não tanto ao desejo<br />

positivo de adquirir um padrão de vida compatível com o nível geral da sociedade<br />

ocidental, quanto ao desejo mais imediato de supressão daquelas mazelas do<br />

subdesenvolvimento. Segundo me parece, três escolas se enfrentam na oferta de<br />

modelos concorrentes para a solução da "questão social": 1) a escola liberal (ou<br />

mais propriamente "libertária") que argumenta com o capitalismo puro. Só este, no<br />

jogo livre da concorrência, no respeito absoluto à propriedade, na obediência às<br />

regras do mercado e na integração à economia mundial, com centro no Atlântico<br />

Norte, seria capaz de acelerar o desenvolvimento e vencer a barreira da miséria,<br />

ainda que à custa de uma etapa inicial de exacerbação das injustiças; 2) a escola<br />

social-estatizante, a mesma que foi adotada entre nós a partir da Revolução de<br />

1930, com marcos de crescente dependência em relação ao paternalismo oficial<br />

no Estado Novo getuliano (1937-45), no ciclo juscelinista (1956-61), no regime<br />

militar, particularmente após 1969, e na chamada Nova República. Essa escola<br />

costumava ser acoimada de "direita" até a 2a. Guerra Mundial e se prendia a<br />

raízes contraditórias, como o positivismo castilhista da Primeira República, a<br />

doutrina social da Igreja dos católicos conservadores e dos integralistas, e o<br />

corporativismo fascista. Mas havia, naturalmente, o impacto mimético do modelo<br />

marxista vigorante na Europa. Hoje, as principais correntes social-estatizantes ou<br />

nacional-socialistas, como gosto de chamá-las1 , são de esquerda ou herdeiras do<br />

patrimonialismo "fisiológico" tradicional. O traço comum entre os seguidores dessa<br />

escola é que a "redenção do proletariado" só se poderá processar pela<br />

intervenção do Estado na economia e através de uma legislação social e<br />

previdenciária cada vez mais "avançada"; 3) a terceira escola parte de um<br />

pressuposto inteiramente diverso; eis que salienta o aspecto fundamentalmente<br />

moral de toda a questão. Seu postulado básico é que a superação da pobreza não<br />

depende tanto, objetivamente, do regime sócio-político ou da estrutura legal da<br />

propriedade quanto da existência e desenvolvimento de uma ética econômica. Em<br />

outras palavras, a pobreza e as alegadas "injustiças" não resultam desta ou<br />

daquela política, nem são corrigíveis por qualquer mudança estrutural básica. Elas<br />

dependem de fatores culturais e históricos, só a longo prazo transponíveis. Isso<br />

1 Vide meu Ideologia do Século XX.<br />

2

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