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José Osvaldo De Meira Penna

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crepúsculo da Revolução Francesa, a semente de uma ideia contrária à de Adam<br />

Smith começa a medrar. O ano de 1830 pode ser oferecido como o do nascimento<br />

da literatura socialista. O ano de 1848 é a data marcante do Manifesto Comunista<br />

de Marx e Engels. Doravante, e paralelamente ao sucesso fenomenal da<br />

Revolução Industrial capitalista - que, da Inglaterra em primeiro lugar, passa para a<br />

França e a Alemanha, depois para os Estados Unidos, para o resto da Europa e,<br />

finalmente, o resto do mundo - uma tendência crescente no desenvolvimento da<br />

civilização ocidental tem sido a de condenar o mercado, fazer intervir o Estado<br />

para corrigir desigualdades supostas ou reais, cercear os impulsos de empresa,<br />

suspeitar do lucro, taxar a renda com impostos progressivos e, de um modo geral,<br />

elaborar, em torno do conceito de uma burocracia encarregada de restabelecer a<br />

moral social, o aforismo da Primeira Epístola de São Paulo a Timóteo (6:10)<br />

"porque a raiz de todos os males é o amor ao dinheiro" - sentença que os romanos<br />

conheciam sob a forma cupiditas radix malorum, e o auri sacra fames ("ó,<br />

abominável cobiça do ouro") de Virgílio. Reemergia o velho rancor do Cristianismo<br />

primitivo quando São Jerônimo afirmara: "um homem rico é ladrão ou filho de<br />

ladrão"...<br />

Inicialmente, a Igreja, conservadora, manteve-se neutra nesse debate que<br />

não afetava ainda os países católicos. Sem demonstrar simpatia alguma pelo<br />

Liberalismo - do qual a economia liberal capitalista é expressão - nem tampouco<br />

pela Revolução Industrial modernizante, a Igreja parecia manter-se em sua<br />

teimosa preferência pela escassez do passado medieval. Alguns clérigos,<br />

entretanto, como Lamennais na França, já anunciavam em seu suposto ímpeto<br />

"liberalizante" a tendência socializante coletivista de esquerda que, sob inspiração<br />

de Teilhard de Chardin e outros jesuítas, iria contaminar a Igreja depois do<br />

Concílio Vaticano II. As soluções radicais ao problema da desigualdade<br />

começavam a atormentar os pensadores católicos, em virtude do espetáculo óbvio<br />

do enriquecimento das classes empenhadas no desenvolvimento industrial. A<br />

partir das encíclicas sociais de Leão XIII e, não obstante sua oposição formal ao<br />

totalitarismo político, a Igreja passou de modo mais evidente a se colocar no<br />

campo oposto aos que encabeçavam o avanço da humanidade. A Populorum<br />

Progressio é, nesse sentido, profundamente ambígua, como supremamente<br />

incoerente foi o papa Paulo VI, que a promulgou. A encíclica Agravou a ojeriza ao<br />

desenvolvimento moderno, pelo fato de conscientizar para a associação do<br />

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