José Osvaldo De Meira Penna
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no incidente com Marta e Maria, aludido acima, Maria teve a melhor parte, em<br />
virtude, exclusivamente, das condições especiais do momento. Se Maria não<br />
fizesse outra coisa senão lavar e perfumar os pés do mestre, e se lá não estivesse<br />
Marta, para se ocupar dos afazeres domésticos, nem Jesus nem seus discípulos<br />
teriam tido o que comer naquele dia... Os autores que se debruçaram sobre a lição<br />
moral contida nesse episódio, concordam com a observação de que a diligência<br />
de Marta foi invocada pelos operosos, ativos e ricos protestantes para denunciar a<br />
pura e ociosa contemplação mística, prezada pelos católicos.<br />
A contraprova de meu argumento se encontra em tantos outros trechos<br />
dos Livros Sagrados, em que descobrimos indiscutível exaltação à riqueza, como<br />
um dom de <strong>De</strong>us a seus eleitos e visível sinal de favorecimento divino. "O Senhor<br />
cuida da vida dos bons", proclama o salmo 36, e "a herança deles será eterna.<br />
Não serão confundidos no tempo do infortúnio e serão fartos nos dias de fome".<br />
Mais impressionantes são as descrições do luxo e opulência do sábio rei Salomão,<br />
no Terceiro Livro dos Reis (Samuel), especialmente o capítulo sétimo, em que são<br />
descritos seus palácios, prosseguindo no capítulo nono, em que se aclamam suas<br />
riquezas, grandeza e poder. "O Rei Salomão excedeu... todos os reis do mundo<br />
em riqueza e sabedoria". É muito claro nesses trechos que a riqueza é equiparada<br />
à sabedoria e que ambas configuram uma graça especial do Senhor. Em suma, o<br />
rico é rico porque é sábio, do mesmo modo como Salomão conquistou a riqueza<br />
em virtude da sua excepcional sabedoria. O mesmo ocorre com o rei Ezequias, a<br />
quem concedeu o Senhor "uma extraordinária abundância de bens". O Salmo 111<br />
anuncia, também, a bem-aventurança do homem que teme ao Senhor, pois<br />
"haverá abundância e riqueza em sua casa e sua munificência durará para<br />
sempre".<br />
É interessante notar que essa concepção de que as riquezas materiais<br />
sejam recompensa terrena certa da fidelidade à lei de <strong>De</strong>us, e sinal natural de<br />
virtude, impregnou a ética judaica e não estaria, por pouco, na conhecida<br />
prosperidade financeira dos israelitas, praticamente em todas as sociedades onde<br />
coexistem com os goym. Uma interessante estatística entre as várias<br />
comunidades étnico-religiosas, na sociedade americana, demonstra que a judaica<br />
é a que dispõe de maior renda per capita e da melhor educação, seguida das<br />
japonesa, italiana, alemã e anglo-saxônica. Permanece, com a mais baixa renda<br />
média, a comunidade negra, e mais baixa ainda, a comunidade católica hispânica<br />
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