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José Osvaldo De Meira Penna

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A partir de Leão XIII, entretanto, com seu respeito ao direito de<br />

propriedade, e até Paulo VI, que acolheu os funestos argumentos terceiro-<br />

mundistas de inspiração marxista-leninista, a doutrina social da Igreja se foi<br />

lentamente deteriorando. Na Populorum Progressio há claras insinuações sobre a<br />

responsabilidade moral e material dos países industrializados em relação aos<br />

subdesenvolvidos. É isso, como já notamos, que levou lord P. T. Bauer a alegar<br />

que "Paulo VI confere legitimidade espúria e validade intelectual especiosa à<br />

inveja e ao ressentimento". João Paulo II recuou do esquerdismo subjacente nas<br />

expectorações ex-cathedra de seu antecessor - provavelmente porque, sendo<br />

polonês, conhece o que é o "socialismo real"... Contudo, o próprio Papa Wojtyla,<br />

ocasionalmente, usa expressões que parecem atribuir uma "injustiça" inerente às<br />

desigualdades ou diferenças de desenvolvimento entre os países e continentes<br />

ricos e os pobres. Numa viagem a Madagascar em meados de 1989, o papa não<br />

resistiu à tentação demagógica que caracteriza os políticos contemporâneos. Ele<br />

denunciou o "imperialismo da pílula" - uma fórmula inadmissível de condenar o<br />

necessário controle da natalidade em países miseráveis em plena explosão<br />

demográfica.<br />

A perspectiva em que hoje se coloca a Igreja não deve espantar quem<br />

está consciente do caráter essencialmente contraditório da religião cristã, em sua<br />

simultânea afirmação do mundo e em sua condenação do mesmo mundo, em<br />

nome de um Reino que não é deste mundo. Vivemos sob o signo da contradição,<br />

como os próprios evangelhos anunciam (signum cui contradicetur). O cristianismo,<br />

bem assinala Kierkegaard, é a cruz do pensamento humano. Está repleto de<br />

contradições intransponíveis. Cristo nos prometeu, não a paz mas a espada -a<br />

espada da controvérsia - e presumimos a espada como símbolo e signo das<br />

contradições. Tomemos um exemplo, retirado do Sermão sobre a Montanha.<br />

Sobre a montanha, aos pobres prometeu o Senhor o reino dos Céus. Prometeu-o<br />

também aos puros. Em muitos outros episódios de seu magistério, estimulou os<br />

homens e as mulheres a manterem a pobreza, a castidade e a pureza, e essa<br />

atitude ele próprio nos ofereceu como modelo a ser imitado. A pureza e a pobreza<br />

são aconselháveis para quem espera a qualquer momento a chegada do Reino.<br />

Mas se só aos puros cabe a recompensa dos Céus, então somos todos pecadores<br />

impuros, condenados ao inferno, por mantermos, para a preservação da vida,<br />

relações sexuais. E nesse caso, uma humanidade toda ela convertida ao<br />

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