José Osvaldo De Meira Penna
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Prejudicado por sua conversão tardia ao nazismo, Sombart, originariamente<br />
socialista, atribuiu o capitalismo principalmente aos judeus e argumentou com a<br />
decadência da península ibérica e com a emergência da Inglaterra e dos Países<br />
Baixos nos séculos XVII e XVIII. Esta, afirmou, se deveu principalmente à<br />
expulsão dos Marranos e seu traslado para Londres e Amsterdam. A<br />
argumentação de Sombart, em <strong>De</strong>r Bourgeois, também parece tendenciosa. O<br />
economista alemão propõe ali como tipos fundamentais de empresários<br />
capitalistas profissionais que, hoje, de maneira alguma classificaríamos como tal.<br />
Os piratas e corsários do século XVI poderiam, porventura, serem descritos como<br />
verdadeiros capitalistas? Seria antes a caricatura do capitalismo, em virtude de<br />
sua total ausência de ética. Na concepção ocidental contemporânea considera-se<br />
que, para funcionar a contento, o empresário capitalista deve ser estritamente<br />
submetido a normas de comportamento e a uma legislação precisa, destinadas a<br />
coibir os abusos, dissolver os monopólios e velar pelo Bem Comum. Uma justiça<br />
imparcial e independente é parte integrante do sistema, como prova a experiência<br />
anglo-americana. Sombart acrescenta em sua classificação dos capitalistas os<br />
grandes latifundiários (Landlords). Estes, de fato, na Grã-Bretanha e na França<br />
dos séculos XVIII e XIX, se transformaram em capitães de indústria, maîtres de<br />
forges e banqueiros. O mesmo ocorreu no Japão contemporâneo - em que<br />
famílias de antigos samurais se metamorfosearam em donas de grandes<br />
indústrias. Enquanto se mantiveram como latifundiários, porém, os senhores de<br />
terra não eram capitalistas mas aristocratas feudais, com uma mentalidade<br />
patrimonialista muito característica. É o que ocorre no Brasil: a maior parte dos<br />
ricos fazendeiros do Nordeste não contribuem para o progresso industrial de sua<br />
área mas para a "indústria da seca", usando a política para o atraso e a<br />
estagnação. Os grandes nomes da indústria de São Paulo e do Sul do Brasil não<br />
foram fazendeiros: sua origem é, em geral, imigrante, e sua fortuna não foi feita<br />
pela especulação imobiliária ou a agricultura, mas diretamente na indústria e no<br />
comércio. Estaria certo Sombart ao incluir o Comerciante (Trader, Handelsman) e<br />
o Artesão (Fabricant) na lista dos empresários capitalistas originais. Os inventores<br />
geniais que comercializaram suas ideias tecnológicas são ainda, na América, os<br />
principais fazedores de fortunas colossais. Pelo menos aqueles que "inventam"<br />
novas tecnologias de produção como foi o caso de Henry Ford ou o inventor da<br />
Polaroid. Os Especuladores são acrescentados por Sombart, com evidentes<br />
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