José Osvaldo De Meira Penna
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espiritualistas, puramente economicistas ou religiosas, egoístas ou altruístas,<br />
empenhadas no lucro ou na caridade, tendentes ao individualismo ou favoráveis a<br />
um modo de vida comunitário ou coletivista - livremente coexistem e concorrem<br />
pelo apoio de parcelas expressivas da opinião pública. Um empresário capitalista<br />
pode ou não ser "materialista". Pode, inclusive, ser católico fervoroso e empenharse<br />
em praticar recomendações das encíclicas papais. O Banco do Vaticano, por<br />
outro lado, pode comportar-se como qualquer banco privado, procurando o lucro e<br />
o investimento produtivo e... ocasionalmente, envolvendo-se até em negócios<br />
escusos sob a administração de um bispo. Não deixa por isso de receber a<br />
bênção papal. O capitalismo não é materialista: é apenas um instrumento material,<br />
pragmático, para a ação na área econômica, cujo teor de espiritualidade não entra<br />
em linha de conta. A economia é a arte e a ciência de administrar coisas. Como se<br />
pode administrar coisas senão a matéria dessas coisas? A necessidade de comer,<br />
de proteger-se contra as intempéries, de prover a própria segurança e alcançar<br />
um certo conforto, na existência cotidiana, são exigências da própria vida. Fanfani<br />
não deixa de reconhecer essa circunstância da humana conditio. Escreve ele:<br />
"Contra estes e contra Weber, podemos objectar que o instinto de lucro é inato no<br />
homem, que os homens sempre procuram despender o menor esforço dentro dos<br />
limites do seu conhecimento, e que os homens suportam freios ou impulsos<br />
alheios a esse instinto. O germe do espírito capitalista é este instinto e esta<br />
tendência, pelo que in nuce o espírito capitalista existiu e existirá sempre". As<br />
exigências materiais procedem do instinto, sem dúvida, e nem o místico mais<br />
sublimado delas pode prescindir. O asceta que descura de suas necessidades<br />
mínimas acaba celeremente falecendo à míngua. Não se deve, portanto, confundir<br />
os requisitos instintivos do homem como animal, fundamento original da atividade<br />
econômica, com materialismo.<br />
Fanfani aborda a questão da superioridade econômica dos países<br />
protestantes sobre os países católicos, escrevendo: "As explicações tradicionais<br />
da chamada inferioridade das nações católicas em comparação com as<br />
protestantes, pondo de parte o fator religioso, recorreram sobretudo à política e à<br />
geografia. As explicações mais recentes têm recorrido umas vezes a fatores<br />
raciais e demográficos; outras, a fatores monetários e, outras ainda, a fatores<br />
tecnológicos. <strong>De</strong> observação em observação, lançou-se luz nova sobre o<br />
problema, conseguindo-se, mais do que explicá-lo, mostrar a sua complexidade, o<br />
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