José Osvaldo De Meira Penna
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do Eldorado.<br />
Assim, para uma apreciação mais equilibrada do assunto, temos que<br />
admitir que os impulsos cúpidos e aventureiros podem ser incentivadores de<br />
empresa capitalista. É esse fator menosprezado por Max Weber, esse fator<br />
irracional que deve ser lembrado. Como acentua Roberto Campos, "só uma<br />
minoria é capaz de reagir satisfatoriamente, em termos de esforço produzido, a<br />
estímulos éticos e burocráticos de natureza um pouco abstrata. A mola propulsora<br />
mais eficiente do esforço econômico - é o estímulo monetário e, direta ou<br />
indiretamente, o poder que dele deriva". Não obstante, o estímulo monetário para<br />
o empreendimento só é bem sucedido quando sustentado por uma intuição<br />
empresarial efetiva - e essa bênção só uma minoria dela goza positivamente. O<br />
fato não é comprovado somente no Brasil, mas alhures.<br />
Tomemos como exemplo a Grã-Bretanha. Verificamos que ela produziu,<br />
em todas as épocas e em todas as áreas onde exerceu sua iniciativa, homens de<br />
tremenda avidez e larga intuição empresarial: temos um Walter Raleigh na<br />
América do século XVII; um Clive e um Warren Hastings na Índia do século XVIII;<br />
um Cecil Rhodes na África do século XIX. Tipos dessa têmpera não podem ser<br />
considerados puritanos no modelo ascético elogiado por Weber. Eles nenhuma<br />
virtude possuíam das que notabilizaram calvinistas, metodistas e Quakers. No<br />
entanto, sem eles não se teria a Inglaterra alçado aos píncaros de grande potência<br />
econômica que chegou a dominar os mares. O instinto vital desses homens não<br />
agia racionalmente, mas por efeito de uma inspiração súbita que os atirava à<br />
aventura, exatamente como a de nossos mais rebeldes Bandeirantes.<br />
Similarmente, nos Estados Unidos, verificamos que não foram apenas os<br />
Pilgrim Fathers e seus austeros descendentes da Nova Inglaterra que construíram<br />
a grandeza econômica do país. A conquista do Oeste longínquo nos famosos<br />
rushes que permitiram atravessar as Rochosas e ocupar o Novo México, a<br />
Califórnia, o Alasca; a abertura do continente pelas ferrovias, graças à iniciativa de<br />
monstros da empresa privada, como um Vanderbilt e um Astor; até mesmo os<br />
grandes cometimentos industriais de tipos severos, porém imaginativos, como um<br />
John D. Rockefeller e um Henry Ford - todas estas proezas econômicas da história<br />
americana não teriam sido possíveis se um elemento de intuição criadora e<br />
pioneira não se manifestasse, elemento que de modo algum se coaduna com o<br />
paradigma do calvinista ríspido, sóbrio, fervoroso, frugal e temente a <strong>De</strong>us.<br />
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