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José Osvaldo De Meira Penna

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espírito do capitalismo com a ética protestante individualista de trabalho e<br />

poupança. O capitalismo, nas nações formadas pela afirmação vital do puritanismo<br />

calvinista, emergia como fundamentalmente oposto ao ideal de pobreza<br />

evangélica de humildade e controle eclesiástico que persistia no mundo católico. A<br />

índole autoritária e comunitária do catolicismo não fora radicalmente rompida após<br />

o aggiornamento do Vaticano II, de modo que as portas se abriam à invasão da<br />

Igreja pelos agitados clérigos frustrados em seu voto de castidade e<br />

comprometidos com as ideologias coletivistas, revolucionárias, igualitárias e<br />

social-estatizantes. O alegado egoísmo utilitarista, materialista e interesseiro da<br />

atividade econômica, numa "economia naturalmente livre", conforme a fórmula<br />

admirável de Adam Smith, parecia se revelar essencialmente diabólico e<br />

pecaminoso. Sem acolher de modo algum o comunismo, a Igreja parecia<br />

considerar o capitalismo como contrário ao mandamento de amor e altruísmo<br />

implícito na ética cristã, luz de tais considerações seria mais fácil compreender o<br />

sucesso fenomenal que alcançou, entre nós, a pseudo-Teologia da Libertação nos<br />

meios da Esquerdigreja. Capitalismo versus cristianismo - eis a alternativa que se<br />

nos foi apresentada. Alternativa que envolve o problema mais vasto da<br />

compatibilidade entre um cristianismo de exigências absolutas e a própria Cultura,<br />

conforme foi debatido com a maior angústia pelos filósofos místicos russos do<br />

século passado e do atual. Se não devemos acumular bens neste mundo mas<br />

apenas aguardar aqueles que nos são reservados no mundo que há de vir, então<br />

certamente o capitalismo não tem vez numa sociedade cristã. Ele será<br />

excomungado do mesmo modo como foi o jovem rico a quem Jesus inutilmente<br />

convidou a converter-se. Durante dois mil anos, esporadicamente, seitas<br />

comunistas e milenaristas radicais desafiaram a ortodoxia. A opção preferencial<br />

pela pobreza é antiga. O fenômeno novamente se repete.<br />

O socialismo se revelou assim, com clareza meridiana, não ser outra coisa<br />

senão uma espécie de heresia 3<br />

ou, mais exatamente, uma secularização radical<br />

da ideia de fraternidade cristã. Isso foi genialmente intuído por Nietzsche há cem<br />

anos. Precisamente, à medida que triunfava o capitalismo no mundo pragmático<br />

do desenvolvimento industrial e do comércio internacional, promovendo o período<br />

mais estupendo de progresso material de que tenha havido exemplo na história da<br />

3 Vide O Fenômeno Totalitário, de Roque Spencer Maciel de Barros.<br />

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