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José Osvaldo De Meira Penna

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sociólogo sobre o papel preponderante do ascetismo e da racionalidade metódica<br />

no sucesso da empresa capitalista. É no que diz respeito ao exato valor do espírito<br />

de iniciativa e aventura, a cobiça em suma , como condição do desenvolvimento.<br />

Se é verdade que, como pensava J. Maynard Keynes, a máquina que<br />

move a empresa não é a frugalidade (thrift) mas o lucro; se é também verdade<br />

que, no dizer de J. Schumpeter, a figura do intuitivo é essencial aos<br />

empreendimentos arriscados, mas produtivos - então estaríamos nós, brasileiros,<br />

bem colocados para o desenvolvimento, pois o desejo irracional de lucro, a<br />

vontade de enriquecimento rápido pelo jogo e "o grande golpe" são lídimas<br />

características nacionais. <strong>De</strong>sde Paulo Prado que sabemos disso 1 .<br />

Foi Marx que transformou a ideia de lucro em sinônimo de exploração. No<br />

Brasil ressurgiu, como se fora, a etimologia da palavra em logro. Economistas e<br />

historiadores como Caio Prado e Nelson Werneck Sodré são responsáveis pela<br />

perpetuação da calúnia. Nos EUA, entretanto, o lucro sempre foi considerado<br />

como legítimo. A palavra inglesa é, aliás, profit, que não possui conotações<br />

pejorativas: o profit é o proveito legítimo que se obtém de qualquer trabalho e<br />

qualquer transação.<br />

Não foi a condenação divina da usura, nem a impossibilidade de passar um<br />

camelo pelo fundo da agulha, nos termos do Evangelho segundo São Mateus, que<br />

teriam demovido nossos empresários de enriquecerem. O que sempre os inspirou<br />

nos negócios foi, sem dúvida, a sedução do tesouro fácil. Essa foi a dinâmica<br />

econômica. O professor americano Lynn-Smith diz que somos mais inclinados à<br />

poesia do que à economia e oferece, como exemplos de nossa "atitude de lucros<br />

rápidos" (quick-profits attitude), a ópera de Manaus e a especulação imobiliária no<br />

Rio e São Paulo na década de 40. Exemplo mais recente é o do ano<br />

hiperinflacionário de 1989. Em outras palavras, não foi Platão, mas Pluto; não foi<br />

Cristo, mas Mamon (do aramaico: mamona = riquezas) que incutiram o espírito do<br />

nosso capitalismo. A psicologia da atitude brasileira perante o fato econômico<br />

resulta assim de uma postura ambivalente perante o problema religioso, postura<br />

em que a consciência moral pode ser negativa, ao passo que, pela intuição, surge<br />

do Inconsciente o demônio da ambição aurífera, transfigurando a visão mitológica<br />

1 Em meu livro A Utopia Brasileira analiso o caráter intuitivo extravertido do espirito bandeirante,<br />

aventureiro e domjuanesco.<br />

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