14.04.2013 Views

José Osvaldo De Meira Penna

José Osvaldo De Meira Penna

José Osvaldo De Meira Penna

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

abrigo contra as intempéries são necessidades. Certo. Mas um aparelho de TV é<br />

mais necessário do que um banheiro e uma fossa? E quais seriam as<br />

necessidades de higiene e saúde, quais seus limites? Sobre o escolho das<br />

"necessidades", o socialismo se tem sempre esboroado quando considera que<br />

cabe ao Estado, e só ao Estado, a definição e provimento de tais necessidades<br />

para os "necessitados".<br />

Entretanto, Pio XI, um papa bastante aberto à modernidade e mais<br />

pragmático do que outros, escreveu palavras que pareciam favoráveis ao<br />

capitalismo liberal e uma derrogação dos princípios coletivistas arbitrários que, em<br />

geral, qualificam as declarações pontifícias sobre economia: "Não se proíba aos<br />

que se preocupam com a produção que aumentem a sua fortuna pelos meios<br />

justos e devidos; pelo contrário, a Igreja ensina ser justo que também se faça mais<br />

rico, de acordo com a sua condição, quem servir à comunidade e enriquecer,<br />

aumentando os bens dessa comunidade".<br />

A chamada "doutrina social da Igreja" é criação original do bispo alemão<br />

von Ketteler, no século XIX, de Leão XIII e, mais recentemente, de João XXIII,<br />

Paulo VI e João Paulo II. A ênfase dessa doutrina, permanentemente ambígua e<br />

mais forte no que critica do que nas soluções propostas, se coloca na comunidade<br />

de exploração dos recursos naturais, na redistribuição da riqueza e na denúncia<br />

da "exploração" do "Sul" subdesenvolvido pelo "Norte" industrializado. Entretanto,<br />

em contraste com os preconceitos socializantes da Igreja moderna, os Santos<br />

Padres dos primeiros séculos cristãos apenas propunham uma ética individualista<br />

que impunha a moderação e o controle na persecução da riqueza, a admoestação<br />

de honestidade nos negócios e o conselho de generosidade na esmola e na<br />

assistência conforme ensinado nas parábolas dos Talentos e do Bom Samaritano.<br />

Santo Agostinho, por exemplo, comentava o trecho de Mateus (5:42) "dá ao que te<br />

pede", restringindo o mandamento no sentido que, em termos de propriedade e<br />

justiça, "não se deve dar tudo o que ele pede". <strong>De</strong>sde o princípio também os<br />

Santos Padres insistiram na obrigação e dignidade do trabalho, reconhecendo que<br />

a pobreza não é apenas o resultado de uma natureza defeituosa ou de um destino<br />

madrasto, mas também da falha pessoal culposa, o que quer dizer, da preguiça -<br />

pecado capital. Em parte alguma, nos velhos textos, se atribui a pobreza a fatores<br />

sociais externos ou forças econômicas sobre as quais não possuímos poder<br />

algum.<br />

147

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!