José Osvaldo De Meira Penna
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abrigo contra as intempéries são necessidades. Certo. Mas um aparelho de TV é<br />
mais necessário do que um banheiro e uma fossa? E quais seriam as<br />
necessidades de higiene e saúde, quais seus limites? Sobre o escolho das<br />
"necessidades", o socialismo se tem sempre esboroado quando considera que<br />
cabe ao Estado, e só ao Estado, a definição e provimento de tais necessidades<br />
para os "necessitados".<br />
Entretanto, Pio XI, um papa bastante aberto à modernidade e mais<br />
pragmático do que outros, escreveu palavras que pareciam favoráveis ao<br />
capitalismo liberal e uma derrogação dos princípios coletivistas arbitrários que, em<br />
geral, qualificam as declarações pontifícias sobre economia: "Não se proíba aos<br />
que se preocupam com a produção que aumentem a sua fortuna pelos meios<br />
justos e devidos; pelo contrário, a Igreja ensina ser justo que também se faça mais<br />
rico, de acordo com a sua condição, quem servir à comunidade e enriquecer,<br />
aumentando os bens dessa comunidade".<br />
A chamada "doutrina social da Igreja" é criação original do bispo alemão<br />
von Ketteler, no século XIX, de Leão XIII e, mais recentemente, de João XXIII,<br />
Paulo VI e João Paulo II. A ênfase dessa doutrina, permanentemente ambígua e<br />
mais forte no que critica do que nas soluções propostas, se coloca na comunidade<br />
de exploração dos recursos naturais, na redistribuição da riqueza e na denúncia<br />
da "exploração" do "Sul" subdesenvolvido pelo "Norte" industrializado. Entretanto,<br />
em contraste com os preconceitos socializantes da Igreja moderna, os Santos<br />
Padres dos primeiros séculos cristãos apenas propunham uma ética individualista<br />
que impunha a moderação e o controle na persecução da riqueza, a admoestação<br />
de honestidade nos negócios e o conselho de generosidade na esmola e na<br />
assistência conforme ensinado nas parábolas dos Talentos e do Bom Samaritano.<br />
Santo Agostinho, por exemplo, comentava o trecho de Mateus (5:42) "dá ao que te<br />
pede", restringindo o mandamento no sentido que, em termos de propriedade e<br />
justiça, "não se deve dar tudo o que ele pede". <strong>De</strong>sde o princípio também os<br />
Santos Padres insistiram na obrigação e dignidade do trabalho, reconhecendo que<br />
a pobreza não é apenas o resultado de uma natureza defeituosa ou de um destino<br />
madrasto, mas também da falha pessoal culposa, o que quer dizer, da preguiça -<br />
pecado capital. Em parte alguma, nos velhos textos, se atribui a pobreza a fatores<br />
sociais externos ou forças econômicas sobre as quais não possuímos poder<br />
algum.<br />
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