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José Osvaldo De Meira Penna

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desenrolou na Inglaterra, há cento e tantos anos, devia ser estudada com cuidado<br />

para avaliar o mesmo fenômeno em nossa terra.<br />

O principal pomo de discórdia concentrou-se em torno da instituição da<br />

workhouse, a "casa de trabalho". Iniciadas no século XVII no âmbito das<br />

paróquias, o paternalismo dessas casas onde se oferecia trabalho, alimento e<br />

residência aos pobres acabou se corrompendo pelo excesso. As "Casas de<br />

Trabalho" tornaram-se antros de vício, de violência, de prostituição e de abusos os<br />

mais variados até sua supressão final. Algo como aquilo que ocorre, entre nós, na<br />

Febem. Considerou-se que uma economia livre, a economia de mercado e o<br />

crescimento normal da riqueza geral graças à industrialização seriam a maneira<br />

de liquidar com esse paternalismo. O socialismo, entretanto, iria restabelecer a<br />

instituição: o que foram as nações comunistas da Europa oriental senão imensas<br />

"Casas de Trabalho", paternalistas, que se propuseram suprimir o problema mas<br />

acabaram se transformando em campos de trabalho forçado, como na Rússia do<br />

Gulag?<br />

Em fins do século XVIII, reagindo contra a retórica dos jacobinos<br />

franceses, Burke é um dos primeiros a protestar contra a ambiguidade maliciosa, o<br />

"jargão demagógico" e politicamente tendencioso de ex-pressões tais como<br />

"pobres trabalhadores". Essa questão da distinção entre o conceito de trabalho e o<br />

conceito de pobreza está no âmago da problemática social. A esquerda socialista<br />

romântica conseguiu realmente o inacreditável sucesso de confundir a tal ponto as<br />

coisas que hoje, quase que inconscientemente, associamos o adjetivo pobre com<br />

o substantivo trabalhador - como se o rico fosse necessariamente ocioso e o pobre<br />

necessariamente trabalhador. Ora, como insistia Burke, na questão da pobreza há<br />

que definir, com absoluta precisão, aquela pobreza que é involuntária e causada<br />

pelas imposições de um destino ingrato, no nascimento, na falta de uma educação<br />

primária que teria cabido aos pais fornecer, e em circunstâncias fortuitas de saúde<br />

e de raça (surdez, cegueira, aleijão) - de um lado - e a injustiça que, essa sim, não<br />

existiria no caso de um indivíduo absolutamente capaz de trabalhar mas que<br />

prefere entregar-se à pura contemplação, ao divertimento, ao álcool e à preguiça.<br />

A palavra pobre, afirma Burke, devia ser reservada aos doentes, excepcionais,<br />

órfãos, menores abandonados e velhos decrépitos. Seriam esses propriamente os<br />

indigentes. No primeiro período em que foi levantada a problemática da pobreza, o<br />

conceito estava, portanto, estritamente limitado àqueles que não podiam trabalhar.<br />

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