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José Osvaldo De Meira Penna

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onde incursionavam.<br />

Normalmente, na "luta de todos contra todos", e temendo a morte, o<br />

indivíduo agredido reage: a história humana é de infinito conflito. Um dos<br />

fragmentos de Heráclito acentuava que "a guerra é o pai e rei de todas as coisas<br />

(polemos panton mèn pater ésti, panton de basileus) e a alguns revela como<br />

deuses, e a outros, como homens, e de alguns fez escravos e de outros, homens<br />

livres"... O Estado hobbesiano teria sido concebido para racionalizar e coibir o uso<br />

da violência, fazendo cessar a guerra de todos contra todos. O amour-propre,<br />

pensava Rousseau, é o grande vício da humanidade. A violência é gerada pelo<br />

egoísmo entranhado da natureza humana, egoísmo que representa<br />

darwinianamente o motor da seleção natural e da evolução. A dialética da<br />

violência e da maneira de suprimir a violência engendrou a concepção<br />

contratualista do Estado, na imaginação dos que filosofam em torno da<br />

problemática da política.<br />

Nos dois casos anteriores, o relacionamento se desenvolve, normalmente,<br />

entre indivíduos ou grupos de âmbito limitado. Por isso comporta uma forte dose<br />

de emoção, com sinal positivo ou negativo, amor ou agressão. Em grande escala,<br />

é certo que na guerra, e sobretudo na guerra moderna, o conflito é coletivo e se<br />

processa quase que impessoalmente, sem que um combatente possa às vezes<br />

conhecer ou mirar seu adversário. Se a guerra representa a extensão a grandes<br />

coletividades do ímpeto egoísta e agressivo de caça, roubo e homicídio, configura<br />

a sociedade política num Estado de direito, por outro lado, uma extensão sempre<br />

imperfeita do comportamento altruísta entre membros solidários de um grupo. A<br />

simpatia de Adam Smith vigora entre os membros do grupo social. A etimologia<br />

das palavras nação e pátria ainda transmite a ideia primitiva de uma comunidade<br />

ou grande família de solidariedade genética.<br />

Finalmente, no terceiro tipo, o relacionamento entre indivíduos é<br />

contratualista ou comercial: é o que ocorre, normalmente, entre desconhecidos na<br />

vida diária em grandes comunidades, tendo objetivos materiais de puro interesse<br />

mútuo. Tal relacionamento é, evidentemente, frio e despersonalizado. Não é de<br />

modo algum necessário proporcionar um tônus afetivo a uma simples transação<br />

rotineira: quando entramos num ônibus e depositamos uma moeda para<br />

pagamento da passagem; ou pagamos num supermercado a compra de<br />

mercadorias - a despersonalização se caracteriza sem qualquer espécie de<br />

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