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José Osvaldo De Meira Penna

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1. Catolicismo e desenvolvimento<br />

Ouçamos o que Max Weber tem a dizer sobre o tema. Max Weber,<br />

conforme notamos em seções anteriores, ocupou-se principalmente da ética<br />

protestante cuja influência sobre o espírito do capitalismo considerou<br />

preponderante. Incidentalmente, tocou no problema do católico devoto. Estaria<br />

este com portando-se continuamente, ou à beira de comportar-se, em seus<br />

negócios, de maneira a transgredir os ditames eclesiásticos. Sua conduta<br />

econômica poderia ser ignorada, no confessionário, somente pelo princípio rebus<br />

sic stantibus. <strong>De</strong>penderia da indulgência do confessor. Ou só seria permissível na<br />

base de uma "moralidade frouxa e probabilística". Num certo sentido, portanto, a<br />

vida dos negócios seria considerada repreensível ou, na melhor das hipóteses,<br />

não positivamente favorável a <strong>De</strong>us. Os problemas de consciência tenderiam a<br />

contribuir para criar conflitos interiores, perturbando a consideração objetiva das<br />

questões de interesse econômico e inibindo, consequentemente, a iniciativa<br />

capitalista.<br />

Podemos admitir, para ilustrar o debate, que, possuído de certa obediência<br />

católica e empenhado numa aventura negocista nos limites da honestidade, seria<br />

o indivíduo inconscientemente atingido por sentimentos de culpa, à medida que<br />

Mamon o favorecesse à custa de concorrentes infelizes ou de proletários<br />

oprimidos. Tais sentimentos poderiam, por reação, manifestar-se sob a forma de<br />

uma conduta ainda mais audaciosa: um verdadeiro desafio à lei divina. A<br />

passagem de um comportamento relativamente honroso, severo e generoso, para<br />

a mais completa falta de escrúpulos e insensibilidade humana ocorreria, assim,<br />

segundo um padrão explicável psicologicamente, e o empreiteiro acabaria<br />

vendendo a sua própria alma ao diabo: Corruptio optimi pessima. Foi o que<br />

aconteceu com os grandes conquistadores espanhóis e nossos próprios<br />

bandeirantes: o desafio domjuanesco determinou, em tais casos,<br />

empreendimentos de absoluta temeridade e imoralidade, com resultados<br />

econômicos às vezes contraproducentes. Eis o drama a que assistimos durante<br />

quase toda nossa história econômica e até nossos dias, como no caso dos<br />

empreiteiros da borracha no Amazonas e dos "pelegos", "tubarões" e "marajás" da<br />

nossa vida contemporânea.<br />

É também verdade que o homem que se enriqueceu rapidamente, por<br />

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