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José Osvaldo De Meira Penna

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atinge 6.000 dólares, uma das mais altas da América Latina, e onde os índices<br />

sociais estão entre os mais invejáveis de nosso continente, se depararia com<br />

indigentes esmolando nas ruas, marginais fugindo da polícia, drogados e menores<br />

abandonados vagabundeando nas calçadas, e com o primitivismo escandaloso, a<br />

imundície e promiscuidade das favelas - tudo isso juntamente com um grande<br />

esforço público para socorrer esse Lumpen estraçalhado pela grande metrópole.<br />

Tocqueville acentua, pois, o paradoxo. Ele observa que, "na Inglaterra, o<br />

nível de vida médio que pode o homem ter esperança de alcançar no decurso de<br />

sua vida é mais alto do que em qualquer outro país do mundo. Isso favorece<br />

grandemente a extensão do pauperismo no reino" (a ênfase é nossa). Himmelfarb<br />

explica como representava esse pauperismo o produto do avanço tanto moral,<br />

quanto material da civilização. Era precisamente a capacidade crescente,<br />

proporcionada pela revolução industrial, de conceder bens materiais e conforto o<br />

que determinava a compaixão para com aqueles que não podiam obter tais bens<br />

por si mesmos. Nessa época é que, por isso mesmo, surge a distinção enfatizada<br />

por Himmelfarb entre pobreza (poverty) e pauperismo, miséria ou indigência<br />

(pauperism). A miséria foi, em suma, o produto direto da Revolução Industrial em<br />

virtude da qual surgia, forçosamente, aberrando dos sentimentos de justiça da<br />

massa da população culta e abastada, o contraste relativo entre uma classe e<br />

outra. O problema é da maior relevância. Foi do escândalo provocado por esses<br />

contrastes que se alimentou o socialismo e, mais particularmente, o marxismo - eis<br />

que Marx viveu na Inglaterra vitoriana a maior parte de sua vida.<br />

Os historiadores, acentua Bertrand de Jouvenel, na obra editada por<br />

Hayek, "Capitalism and the Historian", acima mencionada, "foram<br />

excepcionalmente imprudentes em sua interpretação dos fatos". "Tomaram como<br />

certeza a ideia de que um forte aumento de sensibilidade social e indignação com<br />

a miséria seria um índice claro e verdadeiro da miséria objetiva crescente. Em<br />

segundo lugar, não distinguiram o sofrimento inerente a toda migração, a qual não<br />

deve ser confundida com o sofrimento infligido pelo sistema de fábricas. Em<br />

terceiro lugar, descuraram da importância da revolução demográfica". Jouvenel<br />

critica com sarcasmos a tese de que foi o movimento socialista que trouxe para o<br />

operariado os frutos do progresso econômico. Seria uma tese como a de<br />

pretender que se obtenham frutas simplesmente sacudindo a árvore. O fato é que<br />

foi o capitalismo que produziu as frutas, ulteriormente colhidas no chão pelo<br />

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