14.04.2013 Views

José Osvaldo De Meira Penna

José Osvaldo De Meira Penna

José Osvaldo De Meira Penna

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

pobre senão em comparação com a abastança daquele que mais possui. Numa<br />

economia fechada, limitada e estável, numa economia de soma zero era bem<br />

evidente que a riqueza de alguns só podia ser acumulada em detrimento da<br />

pobreza dos muitos, de modo que, na organização feudal sustentada pela Igreja, o<br />

luxo do episcopado e de uma pequena aristocracia guerreira, dominando a massa<br />

de burgueses e camponeses pobres ou remediados, era perfeitamente aceita. A<br />

Revolução Industrial, atingindo seu paroxismo na sociedade de consumo das<br />

décadas que se sucederam à 2ª Guerra Mundial e inaugurando sua segunda<br />

etapa com a automação e computadorizacão, fez-nos vislumbrar a possibilidade,<br />

antes considerada utópica, de liquidar definitivamente com a miséria do mesmo<br />

modo como foram suprimidas a escravidão, a varíola e a antropofagia. O próprio<br />

proletariado industrial tende a desaparecer: será substituído pelos robôs. Um dia<br />

seremos todos trabalhadores de colarinho branco. Vivi muitos anos na Suíça e na<br />

Noruega onde comprovei o desaparecimento da míngua num regime de<br />

capitalismo democrático ou social-democrático - um triunfo que foi alcançado por<br />

meios pacíficos e reformistas, quaisquer que sejam os percalços do tédio que, por<br />

ventura, inspirem essas avançadas sociedades europeias.<br />

As tensões do século XX resultam, evidentemente, dos contrastes que<br />

ainda marcam a vida social na América do Norte e Europa Ocidental, como estão<br />

marcando o resto do mundo subdesenvolvido nesta segunda metade do século.<br />

Como alguém já observou, "a nova imaginação moral" não mais se satisfaz com o<br />

velho adágio. Se ela pode projetar sobre o século XXI e conceber um mundo com<br />

uma população demograficamente estável e havendo superado a miséria, nem por<br />

isso é lícito esperar que as desigualdades e diferenças venham a desaparecer. A<br />

fórmula futura seria então a seguinte: "sempre tereis convosco os menos ricos"...<br />

Sempre tereis convosco, além disso, os menos enérgicos e inteligentes, os<br />

insatisfeitos, os frustrados, os ressentidos, os preguiçosos, os perdulários, os<br />

debiloides, os boêmios, os doentes, os excepcionais, os marginais, os viciados, os<br />

ascetas e aqueles poucos, admiráveis, que optam verdadeiramente pela pobreza<br />

de espírito. Estes serão menos ricos porque assim deliberadamente desejam,<br />

porque assim se imaginam ou porque são incapazes de progredir. Terão sempre<br />

menos poder sobre os confortos e bens materiais do que os que,<br />

hierarquicamente da classe Alpha, se colocam no comando da economia.<br />

Nenhuma utopia igualitarista vencerá jamais essa situação.<br />

145

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!