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José Osvaldo De Meira Penna

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uma determinada instituição ou vício incorrigível de todo o sistema. Se os pobres<br />

haviam sido moralmente marginalizados, tratava-se de fazê-los reingressar na<br />

comunidade moral da nação. Só aos poucos foi a sociedade sendo contaminada<br />

pela versão, dita "científica", do socialismo, a qual propunha a correção do mal<br />

simplesmente pela supressão da propriedade privada e socialização dos meios de<br />

produção. Embora tenha o marxismo, como ideologia, se infiltrado entre os<br />

Fabianos e no Partido Trabalhista, jamais conheceu a Inglaterra um partido<br />

comunista de força ponderável. Henry Mayhew, que foi um jornalista, ativista e<br />

muitas outras coisas ao mesmo tempo, salientou o caráter "cultural" e "moral" de<br />

toda a problemática, ao assinalar que os pobres tinham hábitos "peculiares" em<br />

matéria de trabalho, sexo, divertimentos, família, propriedade, lei, religião, etc.<br />

Possuíam, em suma, uma "filosofia moral" peculiar. Constituíam uma espécie de<br />

nação, uma cultura da pobreza sui generis na "superestrutura", dentro da nação.<br />

As duas nações se sentiam mutuamente alienadas e desprovidas de conexão. Aos<br />

poucos, contudo, com o desenvolvimento industrial que ia colocar a Inglaterra na<br />

vanguarda das nações, até princípios deste século (quando foi superada pela<br />

Alemanha imperial e pelos Estados Unidos da América), as promessas de Adam<br />

Smith se foram realizando. Com o enriquecimento geral, o estigma da pobreza se<br />

dissipou e os pobres se transformaram nas "classes trabalhadoras" as quais,<br />

eventualmente, com MacDonald, Attlee, Wilson e o Labour Party, iam dirigir o<br />

império, já então decadente, apressando-lhe o declínio.<br />

Na Inglaterra de hoje, como nos demais países da Europa ocidental - se<br />

pusermos de lado os milhões de imigrantes das antigas colônias e de outras áreas<br />

do Terceiro Mundo, e os Gästarbeiter ou "operários visitantes" de países mais<br />

pobres da própria Europa, todos sedentos de tirar algum proveito dos Trinta Anos<br />

Gloriosos de prosperidade inédita na história da humanidade - a pobreza<br />

desapareceu. A Revolução Industrial permitiu, realmente, superar a pobreza.<br />

Eliminá-la como foram eliminadas outras mazelas do passado da humanidade, a<br />

antropofagia, a escravidão, os sacrifícios humanos, o acompanhamento das<br />

viúvas, servos e familiares do príncipe na morte, a varíola e as epidemias de peste<br />

bubônica. Mas o debate com certeza prosseguirá. Permanece a dúvida: foi o<br />

capitalismo que, com sua extraordinária capacidade de estímulo à produção, abriu<br />

a cornucópia da modernidade, ou foi o socialismo que, pressionando sempre por<br />

uma melhor distribuição, acabou paradoxalmente desmentindo as previsões<br />

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