14.04.2013 Views

José Osvaldo De Meira Penna

José Osvaldo De Meira Penna

José Osvaldo De Meira Penna

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

na realidade, ser atribuídas apenas à Reforma protestante e a sua influência sobre<br />

o moderno: pareceriam, mais claramente, oriundas do Renascimento e este foi<br />

mais pronunciado em países católicos como a Itália, do que em países<br />

protestantes. Mas para os alemães como Hegel, Treitschke e Ritschl, configura o<br />

protestantismo a nova ética da imanência, a nova concepção não-sacralizada do<br />

Estado, e o sentido moderno da profissão ou "ofício" (Beruf). Basicamente, o novo<br />

sentimento religioso na "<strong>De</strong>voção moderna", originado no terreno onde prosperou<br />

o protestantismo, abstrai o velho instituto hierárquico sacerdotal da Igreja como<br />

veículo exclusivo da Salvação, remetendo o homem a uma relação pessoal com<br />

<strong>De</strong>us, através da fé (sola Fide) graças à qual podem os pecados ser perdoados e<br />

a reconciliação final atingida.<br />

O que configura essencialmente a estrutura sócio-política do Medievo no<br />

Ocidente é a existência de uma institucionalização bipolar ou bicéfala. Ela é<br />

formada pela Igreja e pela monarquia, ambas hierarquizadas através dos dois<br />

"estados" ou classes "dominantes": o clero e a aristocracia feudal. A configuração<br />

é estável, conservadora e ideologicamente totalitária. A totalidade é o Corpus<br />

Christianum. <strong>De</strong>ntro desse corpo, o exclusivismo é quase total: a sociedade cristã<br />

é fechada. Os incrédulos, hereges, pagãos ou membros de outras religiões<br />

monoteístas (judeus ou muçulmanos, todos filhos de Abraão) são desclassificados<br />

jurídica e politicamente. Pode haver, ocasional e localmente, tolerância para com<br />

esses corpos estranhos e coexistência, como com os judeus e muçulmanos<br />

sobretudo na Ibéria, mas de um modo geral são excluídos de qualquer<br />

participação na vida da comunidade. No dualismo da estrutura política, o<br />

imperador do Santo Império opõe-se ao papa, os reis também à Santa Sé ou aos<br />

bispos locais, e uma interminável Querela das Investiduras atormenta durante<br />

séculos a cristandade, causando cismas e conflitos da maior gravidade. Os dois<br />

poderes vivem em estado de permanente tensão, às vezes em conflito aberto. O<br />

papa excomunga imperadores e reis, o imperador e os reis forçam a eleição de<br />

papas que lhes sejam favoráveis ou geram Antipapas. Os dois poderes são os<br />

dois braços da soberania, o temporal e o espiritual, o secular e o eclesiástico. Os<br />

nobres adquirem imunidade em relação aos ditames eclesiásticos e, vice-versa, o<br />

clero é parcialmente autônomo em relação à autoridade estatal. Mas o dogma<br />

intolerante, a infalibilidade e soberania absoluta caracterizam o sistema em sua<br />

estabilidade e permanência. Estado e Igreja, pai e mãe do povo cristão, eis o<br />

133

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!