Obra Completa - Universidade de Coimbra

Fisiologia anagénica 155
É profundamente diversa a proliferação do ôvo,
nas bipartições sucessivas, desde o início embrionário
que começa a esboçar os organismos, até à diferenciação
última da complexidade histológica que caracteriza
a estructura e a morfologia geral dos seres
mais elevados.
Na proliferação embrionária, o ôvo desaparece, logo
à l. a bipartição, para termos imediatamente duas células,
das quais já nenhuma é ôvo. E, desde o início,
até ao fim da construção orgânica do ser, nunca mais
o ôvo reaparece entre as miríades de derivados a que
sua contínua e rica proliferação dá logar.
Célula alguma do soma orgânico reproduz o ôvo,
nem nos elementos sexuais o encontramos reproduzido;
pois nem o óvulo, nem o espermatozóide, são
elementos idênticos ao ôvo de que provêem.
O que se nota, pois, é que, se na evolução da espécie
os indivíduos mais ou menos se repetem, com
diversos graus de semelhança, todavia, dentro do
desenvolvimento ontogénico de cada indivíduo, a contínua
diversificação cie cada ser é o facto que se nos
impõe incontestável.
Se nós quizermos estender aos organismos a «lei geral
de LE CHATELIER» sôbre as mudanças de equílibrio
nos sistêmas físico-químicos, ou sob a fórma que lhe
dá GEORGES BOHN de «princípio do fenómeno recíproco»
não esqueceremos que êles traduzem a ideia de «resistência
à variação», ou «tendencia para a estabilidade».
Mas tender para um estado que não é atingido, ou
resistir a causas de variação constantemente diversificadas,
outra cousa não é senão variar.
Todo o ser, mesmo resistindo à variação, muda.