Obra Completa - Universidade de Coimbra

170 O Fenómeno "biológico
jE havemos de nós, era fisiologia, ou biologia, fazer
táboa raza dos abismos que se cavam entre a matéria
organizada e a matéria inorgânica, para dizermos:
isto, na célula como no granito, é tudo a mesma química-física
? ou, no granito como na célula, em todos
os fenómenos do universo há a mesma vida ?
São generalizações demasiado amplas, scientíficamente
abusivas, nem sequer admissíveis como prototeses,
por impossibilidade de as trazer ao âmbito das
hipóteses verificáveis.
Pela sciência e pela observação sabemos bem que:
A destruição dos corpos reagentes é a característica
mais saliente das reacções da química pura:
Nas reacções por acção catalítica, o catalizador fica
geralmente intacto.
Na reacção vital, o indivíduo nem se destroe como
reagente químico, nem fica inalterado como elemento
catalítico; mas cresce, engrossa, aumenta e desenvolve-se,
podendo ir, desde algumas gramas com que
começa a evolucionar um ôvo, até algumas dezenas
de arrobas com que se abate no matadouro um boi.
E, sendo assim, eu terminarei dizendo como TAN-
NERY, numa carta a FELIX LE DANTEC — «II ne me
choque pas qu'on cherche à realizer la vie dans un
laboratoire; admettons qu'on fabrique des êtres pensants,
à la suite d'operations bien determinées: c'est
alors que ce que nous apelons matière a des propriétés,
des activités possibles qui ne sont pas ce que nous
connaissons actuellement dans la matière».
Mas, não desanimemos como fisiologistas por não
poder a química dar-nos conta da fenómeno vital,
considerado como irredutível.