Obra Completa - Universidade de Coimbra
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196 O Fenómeno "biológico<br />
estabelecido uma intimida<strong>de</strong> tão interessada entre o<br />
pensamento e o objecto como a que em medicina se<br />
nos impõe, não estaria a sciência pejada <strong>de</strong> tanta generalisação<br />
precipitada, nem <strong>de</strong> tanto dogmatismo<br />
inconsistente.<br />
No entanto, o conhecimento geral é necessário. E<br />
como havemos <strong>de</strong> nós dispensar-nos <strong>de</strong> princípios que<br />
con<strong>de</strong>nsem, por assim dizer, a homogeneida<strong>de</strong> relativa<br />
dalguns elementos do saber, simplificando-lhe a aprendisagem<br />
e facilitando-lhe a aplicação ?<br />
Se o conhecimento individualisado <strong>de</strong> todos os fenómenos<br />
é impossível na infinita heterogeneida<strong>de</strong> <strong>de</strong> suas<br />
modalida<strong>de</strong>s, a sciência, em absoluto, é uma utopia.<br />
Pois é. No seguimento <strong>de</strong>stas consi<strong>de</strong>rações, esta<br />
verda<strong>de</strong> aparece-nos aqui como um truísmo; mas não<br />
tem sido encarada assim, a sciência, emquanto se afincou<br />
em penetrar a misteriosa ontologia das cousas.<br />
Se o conhecimento absoluto é impossível, a sciência<br />
relativa não o é.<br />
E então, <strong>de</strong>sistindo <strong>de</strong> saber o que as cousas sejam<br />
em si mesmas, a sciência volta-se para uma outra via,<br />
na indagação do que elas sejam umas em relação às<br />
outras.<br />
Encontra-se nesta orientação a verda<strong>de</strong>ira missão<br />
scientífica do pensamento. Essas relações das cousas,<br />
entre si e a respeito do homem que em meio <strong>de</strong>las<br />
vive, compõem o conhecimento útil que permite ao<br />
raciocínio <strong>de</strong>terminar os laços <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência que nos<br />
ligam à exteriorida<strong>de</strong> do nosso ser, ao mesmo tempo<br />
que nos dão elementos <strong>de</strong> acção sôbre as condições<br />
dêsse meio exterior.<br />
Jámais saberemos o que as cousas são, mas po<strong>de</strong>mos