O Sacrifício - Unama
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www.nead.unama.br<br />
venerável. Obrigado, senhor, brigado. Vendido e revendido eu não poderia pagar-lhe<br />
este serviço, esta honra, esta esmola, esta felicidade.<br />
— Sr. Bezerra, atalhou Albuquerque, o senhor está laborando em verdadeira<br />
equivocação informando-me do estado da sua vida. Não foi meu intento chamá-lo a<br />
Pernambuco para restituir-lhe a família que o senhor deixou sair pela porta afora em<br />
pranto e desespero. Não tinha e não tenho autoridade para isso. Informei-me por<br />
mera curiosidade. Eu queria saber se a mulher que eu recebera no seio de minha<br />
família tinha razão de estar separada do marido, até certo ponto pareceu-me até<br />
dever meu ter disso conhecimento para minha direção. Se, pelas minhas<br />
informações, eu chegasse a convencer-me de que a Sra. D. Maurícia não era digna<br />
de viver à minha sombra, retirar-lhe-ia imediatamente toda a confiança, e sobre as<br />
suas costas fecharia para sempre as portas de minha casa. Felizmente, senhor,<br />
parece-me que não foi ela quem mais concorreu para a separação que lastimo.<br />
— Toda a responsabilidade deste deplorável acontecimento me pertence.<br />
Minha mulher foi mártir das minhas loucuras. Quero pedir-lhe que me perdoe, e que<br />
venha d’ora em diante proporcionar-me a felicidade, a que eu não soube dar o<br />
devido valor.<br />
— Neste particular, senhor, tudo correrá por sua conta.<br />
— Mas V.S. há de auxiliar-me na extinção do escândalo e da desgraça que<br />
há três anos trazem apartados de mim dois entes que hoje constituem a minha única<br />
riqueza.<br />
— Tenho os melhores desejos de que cessem este escândalo e desgraça; e<br />
prometo-lhe que tudo farei para que o senhor e ela voltem a viver em harmonia,<br />
respeitados e estimados dos homens de bem. Antes, porém, de chegarmos a<br />
qualquer resultado, exijo do senhor um serviço, a que me considero com direito.<br />
— Tenha V.S. a bondade de declara que serviço é.<br />
— Exijo que o Sr. Bezerra faça ver a sua mulher, em termos que metam fé,<br />
que a sua vinda a Pernambuco é o resultado de deliberação sua na qual não tive a<br />
menor parte. Há três anos que D. Maurícia vive em minha casa, em tão estreita<br />
cordialidade que só nos tem proporcionado horas de contentamento. Todos a têm<br />
aqui na maior conta. Eu voto-lhe particular estima, porque não vejo nela somente<br />
uma mulher de qualidades distintas, vejo principalmente a educadora carinhosa, a<br />
quem minha filha deve prendas de grande preço que constituem o melhor do seu<br />
dote. O senhor compreende que em condições tais muito desagradável me seria<br />
que, sem fundamento, aliás, tivesse sua mulher motivo para de qualquer modo<br />
atribuir-me neste negócio solução que não fosse de seu agrado.<br />
— A minha defesa e a minha glória estão principalmente na espontaneidade<br />
com que resolvi procurá-la. Sem essa espontaneidade, nenhuma segurança daria eu<br />
de ser no futuro o reverso do que fui no passado.<br />
Quando Bezerra soube que a mulher a e filha não estavam no engenho,<br />
grande foi a sua contrariedade. Compreende-se que ele tivesse pressa em ver<br />
decidida tão importante questão.<br />
Bezerra dissera, não a verdade inteira, mas só meia verdade a Albuquerque<br />
relativamente às diferentes fases de sua vida. Ele, no Pará, fora quase tudo o que<br />
pode ser um homem que se deixa resvalar no plano escorregadio do desmando,<br />
principiando o escorrego pelo lar doméstico. Vendera tudo o que lhe restava dos<br />
poucos bens que a mulher lhe levara em dote, para consumir seu valor na<br />
dissipação, no jogo, na malandragem. Tivera várias aventuras, e por uma delas<br />
chegara a ir à prisão pública. Quando ficou livre, meteu-se a rábula. Ele não era<br />
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