O Sacrifício - Unama
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No outro dia, a capelinha, onde fora depositado o cadáver parecia horto. Não<br />
houve rosas, perpétuas, saudades, murtas e alecrins em todos os sítios dos<br />
arredores, que não tivessem vindo adornar o penúltimo paço de tão preciosos restos<br />
mortais. Não houve matrona, ou moça, ainda que não pertencesse ao círculo de<br />
onde havia emigrado para nunca mais voltar aquela musa canora, apaixonada e<br />
honesta, que não mandasse levar à capelinha o seu ramalhete ou o seu açafate com<br />
flores - delicado tributo de estima, espontaneamente rendido em honra de quem<br />
deixava tão gentil memória na face da terra<br />
CONCLUSÃO<br />
Voltando do interior à capital de Pernambuco, o primeiro ponto para onde me<br />
encaminhei, depois de ter ido ao meu cabeleireiro, foi o teatro. Havia cerca de oito<br />
meses que eu estava fora do Recife. A minha estada na remota povoação aonde me<br />
levara interesse particular, fora um longo e ininterrupto tédio. Cheguei ávido de<br />
distrações. Ora, a primeira que se me ofereceu foi um espetáculo anunciado para<br />
aquele dia. Esse espetáculo despertou logo em mim dobrada curiosidade: o drama,<br />
além de novo, era original de Ângelo.<br />
No teatro, encontrei-me com Martins, que fora atraído pela mesma novidade<br />
que eu. Ângelo estava num camarote da segunda ordem. Notando eu a presença de<br />
duas senhoras que me pareceram estranhas à família do dramaturgo, Martins veio<br />
em socorro à minha lembrança:<br />
— Não conheces mais Sinhazinha e a mãe?<br />
— Ah! São elas?<br />
— Ângelo está de casamento justo com Sinhazinha.<br />
Nesse momento, o nosso amigo, que nos vira, fez sinal para que fossemos ter<br />
com ele. Subimos, e do camarote assistimos aos seus triunfos literários.<br />
Quase não conheço Sinhazinha. Estava muito menos delgada do que antes,<br />
corada, bonita e parecia ter perdido parte dos modos tímidos, melhor direi, do<br />
acanhamento que um ano atrás era a sua feição dominante. Ângelo mostrava-se<br />
satisfeito, para não dizer feliz. Enfim, notei entre as duas famílias uma como<br />
benevolência recíproca e íntima, que me deu a medida da harmonia a coroar o laço<br />
ajustado entre os dois jovens.<br />
Lembrei-me de Maurícia ao sair do teatro, e falei nela a Martins.<br />
— Vai fazer um ano que a acompanhei à sepultura. Teve uma vida bem<br />
penosa e crua. Descansou.<br />
Comoveram-me estas palavras.<br />
Entrei em casa, revolvendo no pensamento aquela profunda sentença que<br />
Herculano pôs nas elegias do Presbítero de Cartéia:<br />
“Haverá paz no túmulo? Deus sabe o destino de cada homem. Para o que aí<br />
repousa, sei eu que há na terra o esquecimento!”<br />
FIM<br />
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