O Sacrifício - Unama
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E porque o silêncio foi a única resposta que ainda teve desta vez,<br />
Albuquerque ameaçou Brígida de a mandar açoitar no carro, e Januária de expulsála<br />
das suas terras depois de lhe por a casa abaixo.<br />
A esta voz, a cabocla aproximou-se de Albuquerque e contou-lhe tudo em<br />
poucas palavras, que a decência ordena que não sejam reproduzidas.<br />
Albuquerque voltou possuído de estranha comoção. Os olhos se lhe<br />
encovaram dentro de poucos momentos, as cores fugiram-lhe da face que<br />
ordinariamente pareciam verter sangue.<br />
No mesmo instante, mandou chamar Bezerra.<br />
— Acabo de ter uma prova — disse Albuquerque logo que Bezerra penetrou<br />
na sala - de que o senhor é indigno, já não digo do interesse que tomei em melhorar<br />
as suas condições, mas de transpor aquela porta, a não ser para sair e não voltar<br />
mais. Arranquei-o do leito da morte, ou antes da enxerga da miséria. Restitui-lhe a<br />
família, que nunca mais o senhor havia de ter. Dei-lhe um emprego em minha casa.<br />
Enfim, fiz do senhor gente. Vejo agora que empreguei mal o meu tempo, os meus<br />
esforços e a minha proteção. D. Maurícia — acredito-o agora - foi uma vítima de<br />
suas baixezas. Está justificada aos meus olhos. Eu, porém, considero-me agora na<br />
obrigação de lhe dar plena satisfação, e de lhe provar que fazia do senhor juízo<br />
muito superior as suas qualidades. Por isso, exijo que se retire do meu engenho<br />
dentro de vinte e quatro horas. Tem aqui um dinheiro à sua disposição. Saia<br />
inesperadamente. como inesperadamente entrou por aqui adentro. Com este<br />
procedimento me dará plena quitação do que me deve.<br />
Albuquerque tirou de uma gaveta algumas cédulas que pôs sobre a mesa do<br />
lado de Bezerra. Este não acusou ninguém. Longe de negar o que lhe fora<br />
imputado, pediu perdão a Albuquerque, que não lhe respondeu senão com<br />
desprezo. Então, Bezerra, passados alguns momentos, fez a Albuquerque um<br />
cumprimento e saiu. Grande preocupação o tomava. À noite, não apareceu para o<br />
chá. Virgínia, que tudo ignorava, estranhando a ausência do pai, mostrou-se muito<br />
sobressaltada. Pela manhã bem cedo, mandou saber se lhe acontecera algum<br />
desastre. Maurícia estava, de certo modo, aflita. Bezerra não foi encontrado em<br />
parte nenhuma. Seus baús tinham desaparecido. Dias depois, soube-se de tudo<br />
pelo menor. Ele fugira, levando em sua companhia a mestiça.<br />
CAPÍTULO XV<br />
Sinhazinha viera do Recife com um irmão que voltou logo depois de a deixar na<br />
casa-grande. Não podendo assistir ao casamento de Virgínia, sua particular amiga,<br />
resolvera, tanto que lhe foi possível, visitá-la, passar com ela oito dias, segundo<br />
dissera a menina por ocasião de entrar em casa de Maurícia. Este fim ostensivo da<br />
sua vinda era acompanhado de outro fim oculto que particularmente lhe dizia respeito,<br />
e que a continuação desta narrativa há de por patente aos olhos do leitor.<br />
Com a ausência de Bezerra, vieram Paulo e Virgínia fazer companhia a<br />
Maurícia. Foi esta uma das melhores fases da sua vida e ela não o ocultava. Paulo<br />
saía para o serviço, e as três senhoras entremeavam a sua costura com toques e<br />
cantos. O piano abriu-se de novo, sacudiu-se o pó das músicas. Às vezes era a<br />
leitura de um livro importante, já conhecido de Maurícia e Virgínia, mas não da sua<br />
hóspeda que as reunia no gabinete, durante a primeira parte do dia. Ordinariamente<br />
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