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O Sacrifício - Unama

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www.nead.unama.br<br />

— Nada tenho com isso. Mas pode-se deixar de ficar espantado diante de tão<br />

rápida mudança?<br />

— Ora, meu amigo; tem sempre curso tortuoso as coisas desta vida. E adeus!<br />

Tenho pressa. Quero levar a Eugênia esta agradável nova.<br />

Passemos por cima do sofrimento de Ângelo durante os primeiros dias que se<br />

seguiram a esta revelação. Em vão, tentaríamos pintá-los; . A linguagem humana<br />

não tem tintas para por em tela as crises em que a insônia roça pela razão, e a<br />

morte, espectro medonho nos dias felizes, aparece no curto horizonte do<br />

pensamento como a mensageira da única consolação possível.<br />

No dia em que Virgínia devia casar-se, Martins procurou Ângelo depois do<br />

almoço.<br />

— Virgínia casa-se hoje. Vais?<br />

— É impossível. Morreu meu pai. Às duas horas, embarco para ir buscar<br />

minha mãe e meus irmãos.<br />

Ângelo dizia a verdade. Aquela semana fora fecunda em dores para ele.<br />

Martins ficou estatelado. Ignorava esse acontecimento. Exprobrou ao amigo o<br />

seu egoísmo na dor.<br />

À hora indicada, o bacharel deixou a estrada.<br />

Seu coração parecia só pulsar pelos entes queridos que a trinta léguas tinham<br />

nele a única esperança.<br />

CAPÍTULO XII<br />

Não quis Albuquerque que Virgínia saísse da casa-grande, depois de casada,<br />

não obstante chegar para duas famílias a casa que ele mandara preparar para os<br />

pais da menina. Muitas razões dava, quando queria justificar a resolução de ficar<br />

com os noivos em sua companhia; as más línguas, porém, diziam que a<br />

predominante, que ele ocultava sempre, era a de não lhe inspirar confiança a<br />

harmonia dos esposos reconciliados.<br />

Não quis igualmente que a mudança de Maurícia com o marido para a nova<br />

habitação se realizasse, senão na mesma noite do casamento da filha. De feito,<br />

quando o último convidado se despediu, Maurícia abraçou Virgínia, abraçou Paulo e<br />

tomou o caminho da porta. Tinha nos olhos lágrimas nitentes. Bezerra deu-lhe o<br />

braço que ela aceitou sem hesitar. Depois de três anos, era aquela a primeira vez<br />

que estes corpos se tocavam.<br />

Ao passar pela senzala dos pretos, um deles disse:<br />

— Sinhá Maurícia também teve hoje o seu noivado.<br />

Maurícia viu neste pensamento um epigrama que lhe dirigira a fatalidade.<br />

Em silêncio, atravessaram o pátio do engenho e entraram na habitação, que<br />

lhes estava destinada. Ficava distante obra de cem passos da casa-grande. Para que<br />

oferecesse cômodos bastantes, mandara Albuquerque que se aumentassem quartos<br />

e salas. Noivos amorosos e felizes tinham achado ali modesto e perfumado ninho,<br />

onde aqueciam os seus anelos. Os novos habitadores, porém, estavam longe de<br />

achar na convivência mútua o contentamento que só o amor verdadeiro proporciona.<br />

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