O Sacrifício - Unama
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— Não vejo razão, Sr. Albuquerque, em fazer depender de um passo que me<br />
repugna, porque nele adivinho o meu acabamento, a sorte de minha filha a quem<br />
vota sentimentos paternais de que tem dado manifestos testemunhos.<br />
— Não vê razão!<br />
— Que é que tem, senhor, que eu continue separada do meu marido, para<br />
que Virgínia não seja digna de Paulo?<br />
Ouvindo tais palavras, Albuquerque franziu os sobrolhos com evidente<br />
mostras de desagrado. Neste franzir subira-lhe à face o preconceito de muitos anos.<br />
O passado orgulho da família estava ali expresso.<br />
— A senhora teve coragem de me dizer isto? — perguntou ele, inteiramente<br />
mudado. Repugna à senhora renunciar a uma opinião pouco justificável e muito<br />
prejudicial à sua reputação de discreta e ajuizada; a mim, porém, não deve<br />
repugnar, no seu entender, a ligação de meu filho com uma família que, se a alguns<br />
pode parecer simplesmente infeliz, pode parecer a outros, por esta mesma<br />
infelicidade, inferior a uma aliança sem nota! Vejo que não nos entendemos.<br />
Proceda como quiser, minha senhora. Tenha, porém, uma certeza, que Deus queira<br />
não lhe seja fatal: se sua filha vier a ser infeliz, não serei eu vítima do remorso que<br />
esta eventualidade deve ocasionar.<br />
Albuquerque saiu sem dizer mais uma palavra. Maurícia e Virgínia, também,<br />
nada disseram, mas, enquanto a primeira parecia absorta em ocultos e<br />
imperscrutáveis pensamentos, a última desafogava em lágrimas e soluços a sua<br />
desventura.<br />
Seriam oito horas da noite quando um novo personagem foi introduzido no<br />
aposento de Maurícia. De todos era o que mais temia. Era Paulo.<br />
Trazia no gesto a expressão de indescritível tormento interior.<br />
Tanto que ele entrou, Virgínia correu a encontrá-lo; abraçou-se com ele; e<br />
confundiu com as lágrimas dele as suas lágrimas.<br />
— É seu pai que quer esta desgraça, Paulo — disse-lhe Maurícia.<br />
— Como tudo se mudou num instante! — respondeu o rapaz. Éramos tão<br />
felizes, e de repente a desgraça veio sentar-se entre nós. Meu Deus, eu não hei de<br />
ter ânimo para ver esta separação.<br />
— Não havemos de separar-nos, não havemos de separar-nos! - exclamou<br />
Virgínia. Paulo, Paulo, eu não posso viver um momento sem você.<br />
— Nem eu sem você, Virgínia.<br />
— Mas se o Sr. Albuquerque assim o quer... — acrescentou Maurícia.<br />
— A senhora não há de sair daqui, D. Maurícia. Não haverá forças humanas<br />
que possam tirá-la da casa de meu pai. Seria preciso que eu morresse primeiro.<br />
Antes disso, não. Virgínia não sairá daqui!<br />
Estes e outros juramentos, estas e outras exclamações, repetiram-se várias<br />
vezes, por entre lágrimas, que confundiam os três personagens de tão comovedora<br />
cena.<br />
Às nove horas, vieram chamar Paulo da parte de Albuquerque. Ele começava<br />
a condenar aquelas demonstrações.<br />
Querendo D. Carolina repetir com Alice pela quarta ou quinta vez a sua visita<br />
ao aposento de Maurícia, a fim de tentar novamente resolvê-la a realizar o que ela<br />
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