O Sacrifício - Unama
O Sacrifício - Unama
O Sacrifício - Unama
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
www.nead.unama.br<br />
— Preciso falar-lhe, Sr. Martins, quando estivermos desacompanhados de<br />
qualquer testemunhas. Voltarei, amanhã, e rogo-lhe que indique a hora que lhe<br />
parecer mais conveniente para a nossa conferência.<br />
— Venha jantar conosco. Depois do jantar, conversaremos.<br />
No dia seguinte, por ocasião de Martins sentar-se à mesa para almoçar,<br />
vieram trazer-lhe uma carta. Era de Maurícia. Dizia:<br />
Sr. Martins,<br />
Passei a noite em claro.<br />
Não sei como ainda tenho forças para lhe escrever, tal é a prostração em que<br />
estou.<br />
Mas a desgraça não tem piedade, não se condói de suas vítimas.<br />
Estou resolvida a divorciar-me por justiça.<br />
Venho por isso pedir-lhe que se entenda com algum advogado de sua<br />
confiança para defender os meus interesses.<br />
Todas as economias que durante estes três últimos anos pude realizar ficam<br />
à sua disposição para qualquer despesa com a causa.<br />
Eugênia que não se esqueça de mim.<br />
Sua cunhada e amiga<br />
Maurícia<br />
Martins, passando a carta à mulher que estava sentada a seu lado, disse, não<br />
sem desgosto.<br />
— Isto não pode ir assim.<br />
Eugênia leu a carta, e não quis almoçar. A tristeza estendia sobre o seu rosto a<br />
sombra que a acompanha, destruidora de todo o viço e brilho com que a tranqüilidade,<br />
que é quase felicidade, esmalta os semblantes, ainda os menos frescos.<br />
Bezerra não faltou ao prazo dado.<br />
Às quatro horas, sentaram-se ele e Martins ao pé do salgueiro.<br />
— Minha cunhada recusa voltar à vida conjugal, disse Martins, sem mais<br />
preâmbulos.<br />
— O senhor tem fundamento para dizer-me isto? — perguntou Bezerra.<br />
— Ela escreveu-me.<br />
— Eu não podia esperar que ela estivesse em outro ânimo; mas nesta<br />
importante questão, Sr. Martins, o que deve merece maior peso não é a fantasia de<br />
minha mulher, são certos interesses, que não podem ficar expostos a graves<br />
prejuízos. Eu desejo, antes de tudo, saber qual é a sua opinião sobre este assunto.<br />
— Não tenho ainda juízo formado a semelhante respeito. Meu desejo é o<br />
mais natural possível; é, por isso, trivial. Eu quisera que cessasse todo o motivo de<br />
repugnância, que traz o senhor e minha cunhada separados; quisera que voltassem<br />
a viver como cônjuges de condição distinta. Mas sua mulher insiste em não querer<br />
tornar à sua companhia, e dá razões em que assenta a recusa. Foi antes sua vítima<br />
do que sua mulher; antes escrava do que vítima, o que quer dizer que foi vítima duas<br />
vezes.<br />
— Não foi tanto assim;<br />
— Ela o diz; eu de nada sei, a não ser o que ela conta.<br />
31