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O Sacrifício - Unama

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o seu amargor íntimo tinha ido em aumento. Quando Maurícia chegou, mas pode<br />

conhecê-la, porque as carnes pareciam ter fugido do corpo dela e a palidez cobrialhe<br />

o rosto. Era inda este o seu estado. A notícia dada por D. Matilde mudou<br />

subitamente as condições do seu espírito. Ordinariamente, tímida e modesta,<br />

Sinhazinha não guardou desta vez coerência com sua índole e seus hábitos.<br />

Tomando o braço de Maurícia, não a deixou mais senão em casa de Martins.<br />

Tornara-se outra. Estava alegre. Mais de uma vez aproximou-se de Ângelo e dirigiulhe<br />

a palavra; o bacharel notou esta diferença, porque nos encontros que tivera com<br />

a moça durante as duas noites últimas, vira-a apenas corresponder aos seus<br />

cumprimentos e, em vez de aproximar-se, não perder ocasião de se distanciar dele.<br />

O prazer de Sinhazinha, porém, durou pouco, porque dentro em breve ela teve a<br />

certeza de que Ângelo estava a todo o momento a manifestar-lhe esquivança. As<br />

impressões de Sinhazinha foram a modo de comunicativas: Maurícia, à proporção<br />

que os dias se adiantavam, caía também em funda melancolia.<br />

Uma vez, perguntou-lhe Eugênia:<br />

— Que tem você, Maurícia? Todos notam que você anda descontente e<br />

preocupada. Parece-me que não há razão para semelhante tédio à vida.<br />

Virgínia, que já tinha chegado, aproximou-se de Maurícia e disse-lhe.<br />

— Ora, mamãe, deixe-se de tristeza. Vamos tocar, ou antes, venha cantar.<br />

Venha, mamãe.<br />

Por satisfazer à filha, Maurícia pôs-se ao piano. Quando terminou a harmonia<br />

de Schubert, que era a sua predileta, estava banhada de lágrimas.<br />

Interrogada sobre a causa do seu pranto, dissera que não podia ser outra<br />

senão a sua pouca sorte. Todos foram levados a achar a razão desse pranto no<br />

procedimento de Bezerra. Maurícia não disse sim, nem não, a semelhante respeito.<br />

Mas os eu coração e a sua consciência protestaram em silêncio contra o juízo geral.<br />

CAPÍTULO XVIII<br />

O sino da capela deu sinal que ia entrar a festa. As novenas tinham terminado<br />

na véspera com grandes elogios às cantoras; mas o concurso de gente que elas<br />

haviam atraído não cessara, antes, na última noite, mostrava-se ainda maior. Muito de<br />

indústria, o juiz fizera correr fama que os versos seriam cantados pelas primeiras<br />

vozes do Recife e que entre estas se faria ouvir pela primeira vez a mais gentil das de<br />

que ali se poderiam jactar até então nas festas das igrejas. Alguns jornais publicaram<br />

esta notícia, e não foi preciso mais para que da rede de arrabaldes, que cerca a<br />

estrada, chegassem milhares de pessoas dentre as quais, se muitas eram arrastadas<br />

pela devoção, a maioria não tinha outro fim que o de divertir-se como é de costume.<br />

A popularíssima festa de Nossa Senhora da Saúde que se celebra no Poço<br />

da Panela; a de Nossa Senhora dos Prazeres de Guararapes, que se celebra na<br />

freguesia do Cabo; a de Nossa Senhora do Monte, em Olinda, tiveram aquele ano<br />

digna êmula na da Conceiçãozinha da estrada João de Barros. Nunca festa de<br />

arraial foi mais brilhantemente concorrida.<br />

E o espetáculo sob muitos aspectos importantes, pagava a curiosidade das<br />

visitas.<br />

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