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O Sacrifício - Unama

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www.nead.unama.br<br />

como era o dela, caracteres que rejeitam riqueza, brilho, prazeres da vida, se para a<br />

aquisição de tais bens se exigir que eles sujeitem a uma imputação menos digna,<br />

que seria o seu perpétuo tormento, a sua túnica de Nesso.<br />

Quando as suas vistas caíram sobre o papel, que ainda estava aberto na<br />

mesa, ela sentiu que os olhos se lhe arrasavam de lágrimas. Se a visita de<br />

Sinhazinha se realizasse no dia seguinte, ou talvez algumas horas depois, a carta<br />

teria seguido já os eu destino, e ela lograria, talvez, o que sonhava; mas a<br />

fatalidade, que a perseguia de há muito nãos e esquecera dela ainda esta vez.<br />

Maurícia sentou-se defronte do papel<br />

— Que devo fazer? — perguntou a si mesma. Devo escrever, ou devo, ao<br />

contrário, renunciar para sempre a esperança de ter completa na terra a mais nobre<br />

ambição de minha alma?<br />

Passou alguns momentos em aflitiva hesitações, muda, o olhar gelado sobre<br />

a página branca. Sinhazinha não lhe saía da pensamento.<br />

Quando estava nesta perplexidade, Virgínia entrou e começou a falar-lhe<br />

sobre o depauperamento e a tristeza da amiga.<br />

— Mamãe, sabe por que é que Sinhazinha está assim?<br />

— Por que é? — interrogou Maurícia por demais.<br />

— São saudades do Dr. Ângelo. Ela tem-lhe muito amor. Não se pode<br />

esquecer dele. Coitada de Sinhazinha!<br />

— Tens pena de Sinhazinha, Virgínia?<br />

— E por que não hei de ter? Mamãe bem sabe que eu gosto muito<br />

Sinhazinha; ela é uma das minhas melhores amigas. Se estivesse em minhas mãos<br />

dar-lhe o que mais deseja, eu não hesitaria um momento. Ela é tão boa, tão meiga,<br />

tão sincera.<br />

— Acreditas na sua amizade?<br />

— Acredito, sim. Quantas vezes ela me consolou nas minhas tristezas, antes<br />

do meu casamento, quando me parecia que ele não havia de realizar-se! Quantas<br />

vezes me disse, vendo-me chorar: “Não chore, Virgínia. Tenha confiança em Deus.<br />

O Sr. Paulo há de ser seu marido. Que tem que Iaiazinha tenha muitos contos de<br />

réis, seja prima do Sr. Paulo, e D. Carolina mostre desejo que eles se casem? Tudo<br />

isto não lhe há de fazer mal nenhum. Não desanime.” Quem fazia isto comigo, quem<br />

me dava tanta coragem, quando eu sentia meu espírito abatido, quem queria do<br />

meu coração a minha felicidade não me deve merecer muito, muito?<br />

Estas palavras foram agudos punhais desferidos contra o coração de Maurícia,<br />

que se sentiu depois disso ainda menos forte pata levar a efeito a sua resolução.<br />

— Não escreverei — disse, levantando-se. Custar-me-á, talvez, a vida este<br />

passo, mas hei de ter forças para dá-lo.<br />

Sem compreender o que dissera sua mãe, Virgínia olhou para ela atônita e<br />

confusa; e no seu rosto, por onde lhe corria em bagas o pranto, buscou em vão ler o<br />

natural sentido daquelas palavras.<br />

— Meu Deus! — exclamou a menina ao cabo de um momento, em que<br />

lobrigava muito ao longe nuvem cheia de tempestades no horizonte, por ora sem<br />

fogos e sem vulcões destruidores, da vida de Maurícia. — A quem ia escrever,<br />

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