O Sacrifício - Unama
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www.nead.unama.br<br />
A minha opinião é que teu marido tem padecido muito mais que tu, Tem<br />
padecido doenças, desamparos, desprezos, e até prisões; e, pelo que diz, está<br />
inteiramente arrependido dos males que te deu a sofrer, e deliberado a não ter dora<br />
em diante senão extremos de amor para ti e tua filha.<br />
Não sou suspeita neste assunto. Bem sabes quanto eu detestava o homem<br />
que foi a causa dos maiores desgostos que temos curtido na família, depois da<br />
morte de nossos pais.<br />
Mas ele mostrou-se tão contrito, que só merece que o acolhas de novo ao teu<br />
coração.<br />
Por que não hás de viver com o teu marido, quando é ele que te procura?<br />
Eu sei que tu estás muito bem aí; que na casa onde estás todos te estimam;<br />
mas lá diz o ditado — Casa alheia, brasa no seio.<br />
Tem paciência, Maurícia. Sou mais velha do que tu, posso aconselhar-te.<br />
Torna de novo a ter casa.<br />
Não irás para longe; por isso há de ter-nos sempre a teu lado para velarmos<br />
pela tua segurança e pelo teu sossego.<br />
Se não me sentisse um pouco adoentada desde a noite dos meus anos,<br />
metia-me num carro e ia abraçar-te.<br />
Adeus. Até breve.<br />
Recebe afagos e saudades de<br />
Tua irmã e amiga<br />
Eugênia<br />
Ainda bem Maurícia não tinha concluído a leitura destas linhas, quando um<br />
moleque lhe anunciava, por parte de Albuquerque a visita de Bezerra.<br />
Maurícia levantou-se quase louca.<br />
— Dize-lhe que não lhe falo, que não lhe quero falar — disse pálida, trêmula,<br />
sentindo-se próxima do desespero.<br />
E trancando-se por dentro, recomeçou a leitura mal concluída da carta que<br />
lhe dava tanto que sofrer.<br />
Depois de algum tempo, um pensamento sinistro atravessou-lhe o espírito, já<br />
combatido por tantos sopros da tormenta que se desencadeara sobre a sua cabeça.<br />
E Virgínia?! — exclamou sobressaltada, ligando este nome querido à ordem<br />
de idéias que lhe tumultuavam em confusão e tropel no entendimento. Se ele<br />
lembrar de roubar-me Virgínia, o que será de mim? Nem quero pensar nisso.<br />
Incontinente correu à porta, abriu-a violentamente, e atirou-se à escada, que<br />
ia ter na sala de jantar. Ainda não tinha descido os primeiros degraus, quando ouviu<br />
soluçar uma pessoa que subia. Era Virgínia.<br />
— Mamãe! Mamãe! — dizia por entre lágrimas a menina.<br />
Diante deste inopinado espetáculo, aflição íntima da desventurada mãe teve<br />
tréguas. Maurícia esqueceu tudo o que se referia especialmente a si, para só inquirir<br />
a causa ainda ignorada do pranto da filha.<br />
— Que te aconteceu, Virgínia, que te aconteceu? — repetiu uma, duas e mais<br />
vezes, como em delírio.<br />
— Está tudo acabado, mamãe! Meu Deus, meu Deus, como poderei viver<br />
sem Paulo?<br />
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