O Sacrifício - Unama
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pode continuar nesse lugar. Há de sair daqui dentro do mais breve tempo que for<br />
possível.! E formou logo sua resolução.<br />
Chegando ao engenho, antes da hora costumada, Virgínia fez-lhe mil<br />
indagações para saber a causa desta alteração; Paulo respondeu-lhe que se sentira<br />
indisposto. Deixando a mulher em seu aposento, dirigiu-se à sala onde D. Carolina<br />
se demorava a maior parte do dia. Queria contar o que vira à sua mãe e pedir-lhe<br />
que o aconselhasse; mas antes de fazer qualquer revelação, D. Carolina começou a<br />
relatar-lhe o que se passara naquela manhã entre ela e Maurícia. Em sua opinião,<br />
Maurícia criava fantasmas para desacreditar o marido, que não era tão mau como<br />
dizia. Então, Paulo referiu tudo: Maurícia tinha carradas de razão. Ele próprio fora<br />
testemunha da cena mais aviltante que se pode imaginar para um homem casado.<br />
D. Carolina ouvindo estas atrozes revelações, mostrou-se ao princípio incrédula;<br />
mas, depois, forçoso foi ter por certas as palavras do filho. Paulo estava triste e<br />
indignado e os seus sentimentos eram comunicativos. Sabendo que Maurícia voltara<br />
desgostosa, convidou sua mãe para ir com ele e Virgínia aquela tarde buscá-la para<br />
tomar chá no engenho. Conhecia quanto Maurícia era melindrosa. “Se minha mãe<br />
não for lá, D. Maurícia nunca mais tornará a esta casa”.<br />
Ficou assentado que haviam de ir depois do jantar.<br />
CAPÍTULO XIV<br />
Maurícia despertou, seriam cinco horas da tarde, ao estrondo produzido por<br />
fortes pancadas na porta do gabinete. Olhando por aí, viu Bezerra, que arrancava a<br />
fechadura, tendo em uma das mãos um escopro e na outra um martelo. Lançando<br />
as vistas à alcova fronteira, viu mais que à porta se substituíra um reposteiro de<br />
pano verde, em cujo centro se mostrava a palavra — Toilette — feita de letras<br />
amarelas.<br />
— Que quer dizer isso? — inquiriu espantada, apontando de pé para a alcova.<br />
— Quer dizer, Maurícia, que eu resolvi dar à minha casa o tom de uma casa<br />
de baile. Isto não lhe pode ser desagradável, visto que ninguém ainda teve mais do<br />
que a senhora o gosto delicado, que se aprende em Paris.<br />
Passada a primeira impressão que lhe deixava o remoque do marido,<br />
Maurícia sentou-se e disse-lhe:<br />
— O senhor fez isso para se vingar do que eu pratiquei ontem?<br />
Bezerra aproximou-se da mulher, e tornou-lhe em resposta:<br />
— E julga a senhora ter praticado uma bonita ação para o seu marido?<br />
— Ao homem que fosse verdadeiramente meu marido eu certo não faria o<br />
que fiz; mas o senhor, não obstante dizer-se tal, pode acaso julgar-se com direito a<br />
procedimento diverso?<br />
— Maurícia, você anda iludida. Supõe que os homens se devem equiparar às<br />
mulheres. Entende que os deveres e os direitos da mulher são idênticos aos do<br />
marido. Ignora que o pecado mortal para a mulher não é senão culpa venial para o<br />
homem. Estranha que os maridos tenham liberdade ampla em suas ações, e as<br />
mulheres só a tenham muito reduzida. Ora, tudo isto são erros, Maurícia! Aceite a<br />
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