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O Sacrifício - Unama

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www.nead.unama.br<br />

E, dando o devido desconto ao que ouvira, encaminhou-se para o ponto onde<br />

exercia a sua indústria, e aí se deixou ficar até às duas horas; trinta minutos depois,<br />

entrou novamente no escritório.<br />

— Estás mal comigo, Ângelo? — perguntou ao entrar.<br />

— É a mim que me cabe fazer-te esta pergunta.<br />

— Estive ontem à noite em tua casa. Tinhas ido ao teatro. Tomei chá com tua<br />

mãe e tuas tias. Vi teus irmãos. Um deles pareceu-me estar já perdendo ao ano.<br />

— Conheces algum mestre brando, benévolo e paciente? Não quero expor<br />

meus irmãos ao desamor de certos professores que tornam odioso aos meninos o<br />

mister de aprender.<br />

— Tenho um primo que é um professor exemplar. Falar-lhe-ei amanhã. sobre<br />

a entrada de teu irmão na sua escola; e, na semana vindoura, pode o menino<br />

começar o trabalho. Mas — mudando de assunto — qual a razão do teu afastamento<br />

de minha casa. Lá ninguém tem ofendeu.<br />

— Não tenho aparecido por estar muito sobrecarregado com trabalhos;<br />

— Forenses?<br />

— Na maior parte.<br />

— Queria-me parecer, ao entrar aqui, o contrário do que estás dizendo. Há<br />

três para quatro meses que não venho ao teu escritório, e em tão curto espaço de<br />

tempo noto agora grande diferença. Então, via-se o escritório ordinariamente cheio<br />

de clientes; hoje, vejo-o deserto. Somos três os que estão aqui — eu, tu, e ali o Sr.<br />

Jacinto, matando moscas. Como vais com o teu jornal.<br />

— Agoniza. Muitos dos assinantes não renovaram as assinaturas e ver-me-ei<br />

na contingência, se não entrarem novos que compensem os que não tornaram, de<br />

suspender a publicação.<br />

— Deves à tipografia?<br />

— Estou num pequeno atraso.<br />

— Entretanto, há quatro meses era próspero o estado do jornal. Não se<br />

deverá atribuir o resfriamento dos assinantes à publicação quase exaustiva de<br />

traduções e transcrições, em vez de artigos originais, em que até certo tempo te<br />

mostraste tão fecundo?<br />

— Talvez. De fato, não tenho tido tempo de escrever como já escrevi. Ando a<br />

modo de preocupado.<br />

— Andas; e é sobre isto que venho tomar-te alguns minutos.<br />

— Senta-te aqui.<br />

Ângelo e Martins encaminharam-se para um gabinete curto e estreito, que<br />

corria paralelo à sala, onde aquele tinha a sua mesa e estantes. Ângelo recostou-se<br />

sobre um sofazinho de vime, que com duas cadeiras de braços adornavam o<br />

pequeno aposento. Martins sentou-se em uma das cadeiras, e começou assim:<br />

— Ângelo, venho falar-te sem outra autoridade senão a de amigo sincero que<br />

te deseja mil prosperidades e muitas glórias que redundem em proveito dos teus.<br />

— Podes falar com toda a liberdade. Sou o primeiro a reconhecer que uma<br />

das minhas mais urgentes necessidades é a de ter um amigo que me dê saudáveis<br />

conselhos.<br />

— Vim resoluto a dá-los. Tua mãe, tão discreta, tão conformada com a sua<br />

sorte, teve ontem para mim maternais franquezas e comovedores ressentimentos.<br />

Considera-te, não sem razão, afastado do caminho que sempre soubeste trilhar,<br />

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