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O Sacrifício - Unama

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www.nead.unama.br<br />

ele neste ponto; os outros moços que estiveram presentes só se ocuparam com ela.<br />

Oh! A senhora mal sabe quanto eu comecei logo a sofrer por causa dessa mulher.<br />

E os olhos de Sinhazinha arrasaram-se de lágrimas.<br />

Maurícia sentiu mais espanto, mais surpresa do que dor; mas a sua<br />

curiosidade e impaciência eram ainda maiores.<br />

— Quantas novidades dentro de pouco mais de três meses! — exclamou com<br />

amargura.<br />

— Uma semana depois, comecei a notar grande mudança no Dr. Ângelo. No<br />

domingo, faltou ao retiro; no sábado anterior, já tinha faltado ao chá em casa do Sr.<br />

Martins, onde, havia mais de um mês, era um dos hóspedes mais certos. Então,<br />

pelas conversações dos moços que estiveram presentes , eu inferi que ele estava<br />

apaixonado pela Júlia (tal é o nome da atriz). Oh! D. Maurícia, quando me convenci<br />

que ele me deixava por essa mulher que nunca será capaz de lhe ter o amor que eu<br />

sinto por ele, oh! não sei como não me estalou a cabeça! Há mais de um mês que<br />

dura o meu tormento. Não vê como estou? O sono fugiu dos meus olhos, o prazer<br />

abandonou a minha alma. Com a minha tristeza, mamãe anda aflita. Ela sabe de<br />

tudo o que se passou entre mim e ele. Tem procurado consolar-me, mas não há<br />

consolação para quem sofre como eu. Entrei nesse amor com toda a minha<br />

existência. Eu via no Dr. Ângelo, não só a minha felicidade, mas a minha nobreza.<br />

Considerava-o já uma parte de mim mesma, quando entre mim e essa parte em que<br />

estavam concentrados todos os meus afetos se interpôs fundo abismo, e eu fiquei<br />

com todas as angústias que deixa o ladrão no espírito da pessoa a quem roubou o<br />

maior tesouro.<br />

Dizendo estas palavras, Sinhazinha deu largas ao seu pranto; e Maurícia,<br />

que, no começo da narrativa a ouvia com intenção reservadamente hostil, não pode<br />

deixar de comover-se. As lágrimas da ingênua moça eram irmãs das suas; vinham<br />

do fundo do coração, porque tinham por origem o amor infeliz.<br />

Maurícia pegou de uma das mãos de Sinhazinha como quem queria animá-la a<br />

prosseguir suas queixas, que pareciam poder mais do que ela. Sinhazinha continuou:<br />

— Lembrei-me, então, da senhora para me ajudar a tirá-lo do poder deste<br />

monstro encantador que o traz tão escravizado aos seus mágicos feitiços.<br />

— De mim, Sinhazinha, lembrou-se de mim? — inquiriu Maurícia,<br />

repentinamente.<br />

— Eu sei que o Dr. Ângelo a tem no maior conceito. Não fui testemunha do<br />

modo como ele a tratou no domingo em que estivemos todos reunidos por ocasião<br />

do aniversário natalício de D. Eugênia?<br />

— Não tenho a menor importância para ele. Atualmente eu me considero<br />

objeto do seu ódio.<br />

— Do seu ódio! Não diga isso. Por que é que ele há de ter-lhe ódio?<br />

Compreendendo que se tinha excedido na revelação do seu juízo íntimo,<br />

Maurícia acrescentou, imediatamente:<br />

— Ouviu-o falar alguma vez em mim depois da minha reconciliação com meu<br />

marido?<br />

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