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O Sacrifício - Unama

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www.nead.unama.br<br />

Assim falando, Maurícia lançou-se nos braços da senhora do engenho, e<br />

umedeceu-lhe o seio com lágrimas.<br />

CAPÍTULO VII<br />

Não se pode descrever o assombro de Maurícia ao dar com as vistas em<br />

Bezerra na sala do sítio. A medonha visão, que lhe aparecera no boqueirão e se<br />

desvanecera quase inteiramente no trajeto para a casa de Martins, surgia agora<br />

novamente, envenenando-lhe o espírito e repassando-lhe de fel a malfadada<br />

existência. Terríveis ameaças vinham com esta visão merencória e truculenta. O<br />

passado de que Maurícia desenterrara a página, que lera a Ângelo, ressurgiu a seus<br />

olhos com todos os episódios, dando-lhe a feição de uma tragédia.<br />

— Eu logo vi que não havia de enganar-me — disse ela tristemente.<br />

E acrescentou no mesmo instante:<br />

— Que será de mim, se esse homem me jungir outra vez ao carro de sua tirania?<br />

E porque a esse tempo tinha passado a primeira impressão do assombro,<br />

Maurícia volveu imediatamente sobre seus passos. Ângelo, que tinha ainda preso ao<br />

seu braço o dela, deixou-se arrastar irresistivelmente. O acaso os unira, e a<br />

fatalidade parecia não querer soltá-los. O abismo, em que um esteve perto de cair,<br />

ameaçou o outro. O pensamento de escapar a esse abismo era comum a ambos.<br />

— Fujamos daqui, Sr. Dr. Ângelo. Deus me livre de ser vista por meu<br />

carrasco. Parece-me que para afugentar-se espavorida a minha liberdade, bastaria<br />

que ele me cobrisse com seu olhar sinistro.<br />

Foi profundamente abalada que Maurícia disse estas palavras, arrancos de<br />

seu ânimo quase exausto. Sentia-se presa da febre e do frio ao mesmo tempo. Em<br />

sua alma, havia fogo e gelo — o fogo do desespero; o gelo do terror.<br />

Deram a andar em demanda do portão, protegidos pelas sombras das árvores<br />

a que as da noite aumentavam o vulto e a densidão.<br />

— Há talvez excesso nos seus receios, D. Maurícia — disse Ângelo, depois<br />

de um momento de silêncio. Quem a poderá obrigar a viver com este homem? A<br />

senhora não pertence ao acaso! Não é dona das suas ações?<br />

— Pertenço-me e sou senhora das minhas ações — respondeu ela. Mas a<br />

verdade é que ele me aterra como se fora um duende. Não está em mim deixar de<br />

temê-lo. Contra esse homem só fui forte em um momento da vida — o da minha<br />

separação.<br />

— Recobre os ânimos — prosseguiu o bacharel. Voltar à companhia dele, ou<br />

ficar livre como até hoje, são coisas que dependem exclusivamente da sua vontade.<br />

Não tem vivido longe dele durante três anos? Por que o teme? Demais, a senhora<br />

não está só. Ao seu lado pulsa um coração virgem e amigo, onde predominam dois<br />

sentimentos intensos — o amor e a dedicação. Exija qualquer prova destes<br />

sentimentos que ela não será recusada, nem retardada.<br />

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