O Sacrifício - Unama
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— Não perca as esperanças. O tempo acabará tudo.<br />
www.nead.unama.br<br />
Parte destas suspeitas fora insuflada por D. Sofia, a quem a filha revelava<br />
todas as ocorrências que lhe diziam respeito.<br />
— Tens tanta confiança em D. Maurícia, Sinhazinha, como se ela fosse tua<br />
mãe ou tua irmã. Se pensas que há de fazer mais por ti do que por ela, está<br />
enganada.<br />
— Não diga isso, minha mãe. D. Maurícia tem muito boa alma.<br />
— Tola! Não passas de uma tola! Eu tudo estou vendo e pelos domingos vou<br />
tirando os dias santos. Já observaste que o Dr. Ângelo só se senta ao pé dela, e que<br />
só com ela tira conversa?<br />
— Quem é que não gosta de conversar com D. Maurícia, que é tão instruída e<br />
bem educada?<br />
— Não seja simplória, minha filha. Eles aproximam-se um do outro porque<br />
alguma coisa existe entre eles dois. Que quer dizer D. Maurícia compor um<br />
acompanhamento para uma poesia do Dr. Ângelo, mandar-lhe traduções feitas por<br />
ela, conversar com ele horas inteiras? Não te iludas, Sinhazinha!<br />
A menina começou atentar nestas traiçoeiras sagacidades do amor maternal<br />
e achou que havia fundamento. As suas suspeitas redobraram com a intensidade da<br />
moléstia espiritual de Maurícia, que lhe parecia ocasionada pelo amuo do bacharel.<br />
Uma manhã, Martins, passando os olhos por uma das folhas diárias do<br />
Recife, teve grande surpresa. Acabara de ler a nomeação de Ângelo para o lugar de<br />
promotor de uma comarca do interior. Mas a surpresa não lhe foi inteiramente<br />
desagradável; e dando a notícia a Eugênia, acrescentou estas palavras:<br />
— Já era tempo de procurar um emprego e entrar numa carreira séria e<br />
decente. está apodrecendo no Recife.<br />
Igual, senão maior surpresa teve D. Matilde, quando o filho lhe indicou o seu<br />
despacho na folha, Por pouco ela não teve uma síncope. Não havia para ela<br />
sacrifício maior do que viver separada do filho.<br />
— Que resolução foi esta, Ângelo? E por que não me ouviste antes, meu filho?<br />
— Eu sabia que as suas lágrimas haviam de ter força para dissuadir-me de<br />
um pensamento, e um propósito que não pode, aliás, deixar de redundar em<br />
benefício de minha mãe e meus irmãos.<br />
D. Matilde começou a chorar.<br />
— Muito me há de custar a separação, minha mãe, mas a lei fatal da<br />
necessidade pode mais que as leis do coração. Tenha paciência. Preciso de meios<br />
para sustentar a família, e o escritório não os proporciona. Devo ir buscá-lo onde<br />
eles se me oferecem, ainda que seja distante daqui.<br />
Dois dias depois, Ângelo seguiu para a comarca. Ia com ele imensa dor. A<br />
imagem de Maurícia, impressa no pensamento, não o deixava um instante, no meio<br />
das suas fundas cogitações; e ao lado dela, aparecia D. Matilde, chorosa e triste<br />
como no momento da despedida. Nunca as saudades tiveram tamanha força em seu<br />
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