O Sacrifício - Unama
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Despertada pelo estrondo, Maurícia sentou-se trêmula, atemorizada, e dando<br />
com os olhos no marido, tudo compreendeu.<br />
— Ainda me persegue? — disse saltando envolta na longa colcha.<br />
— Maurícia, por que foge de mim? — perguntou Bezerra.<br />
Maurícia tinha de feito corrido à porta do aposento e desdado à volta da chave.<br />
Bezerra viu-a dirigir-se ao quarto, onde ele estivera e trancar-se outra vez pior dentro.<br />
— Hei de vencê-la, hei de vencê-la, hoje mesmo - disse ele.<br />
Mas como havia de descer? Faltava-lhe ânimo para saltar. A parede tinha<br />
talvez cinco metros de alto. Era uma altura suficiente para guardar uma mulher, mas<br />
excessiva para a descida de um homem sem outro auxílio que as mãos e os pés. E<br />
contudo urgia descer. Na sala de visitas e no aposento onde Maurícia se refugiara<br />
estava tudo às escuras. dentro em pouco tempo, na alcova, fariam invasão as<br />
trevas. Não deixava de ser em certo modo aflitivo o momento.<br />
Quase desesperado, Bezerra, calculando que poderia ser vítima de risos<br />
mofadores, decidiu-se a saltar, deliberado a deitar por terra a porta que se<br />
interpunha entre ele e a mulher. Pôs as mãos sobre o frechal, onde tinha os pés, e<br />
com as pontas destes tentou descer ao longo da parede. Mas depressa as mãos<br />
fugiram do alto, e ele julgou que ia quebrar-se de encontro ao ladrilho da sala.<br />
Quando já se considerava vítima do desastre, sentiu-se com surpresa cair entre uns<br />
braços robustos, que o apararam com firmeza descomunal.<br />
Então, ainda aturdido, ouviu à meia voz estas palavras:<br />
— O Sr. queria morrer? Se não fosse eu, podia estar quebrado.<br />
— Brígida! — exclamou Bezerra, sentindo-se apertado ente os braços e os<br />
seios resistentes da negrota.<br />
Não tinha dormido ainda, e, sabendo o que se passara entre Maurícia e<br />
Bezerra, quase previra o que acabara de dar-se. Vendo-o entrar com a escada fora<br />
de horas. viera pé ante pé, e colocara-se à porta da sala de visitas, que abria a<br />
comunicação para o corredor. Dali, testemunhara a ascensão de Bezerra, a saída<br />
violenta de Maurícia e os embaraços dele para descer. Enfim, vendo-o tentar a<br />
descida, correra a tempo de o aparar entre os braços.<br />
— Estava aqui há muito tempo? — perguntou-lhe Bezerra;<br />
— Eu vi tudo — respondeu Brígida. O que admiro é a pachorra de vosmecê.<br />
Tanta mulher que há no mundo.<br />
— É verdade — retorquiu Bezerra.<br />
E em vez de atirar-se contra a porta fronteira, entrou na alcova, onde a vela<br />
agonizante despediu o último clarão e apagou-se.<br />
CAPÍTULO XIII<br />
Toda a noite Maurícia passou em claro, vendo sombras gigantescas<br />
atravessar a escuridão do quarto, onde se refugiara. Por extremo excitada, pareceu-<br />
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