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O Sacrifício - Unama

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www.nead.unama.br<br />

vida àquele que a fatalidade pôs no meu caminho para apavorar os meus sorrisos, e<br />

afugentar a chuva de flores em que se banhava a minha mocidade. Não duvide de<br />

mim. Escute. As minhas circunstâncias são melindrosas. Quem sabe o que neste<br />

momento não se estará pensando a meu respeito ao notar-se a minha ausência?<br />

Faço um apelo ao seu critério. Entreguemos ao futuro os nossos destinos. Terá<br />

coragem o senhor para proceder de modo diferente. Não há de ter. Volte à sua casa.<br />

Teremos ocasião de nos entendermos sobre este assunto.<br />

— Poderei levar pelo menos a certeza que lhe mereço o seu afeto? - perguntou<br />

Ângelo, compreendendo tardiamente que urgia sair de tão arriscada situação.<br />

Maurícia fitou-o com os seus grandes olhos deslumbrantes. O ardente<br />

colóquio com o bacharel tinha-lhe trazido um resultado não isento de perigos; as<br />

paixões que repousavam silenciosas no fundo da sua alma, ela as sentiu ergueremse<br />

vivazes como nos primeiros anos da mocidade.<br />

— Pode — respondeu com voz tímida.<br />

Ângelo apertou-a contra si e deu-lhe um longo beijo a que ela não opôs<br />

nenhuma resistência.<br />

As paixões de Maurícia tinham de feito despertado.<br />

CAPÍTULO XI<br />

Separaram-se alguns passos antes da porteira. Ângelo para volver à<br />

povoação imersa no seu habitual silêncio, Maurícia para ocultar no fundo do<br />

aposento, tão cuidadosamente que ninguém o suspeitasse, a deleitosa revolução<br />

que lhe deixava na alma o beijo do bacharel.<br />

— Meu Deus, que será de mim? — disse ela como quem sentia à roda de si,<br />

ameaçando perdê-la, todos os perigos que cercam os amores ilícitos. Como é<br />

violenta a sua paixão por mim! E como eu ao amo! Oh! que desgraça, que desgraça,<br />

meu Deus!<br />

Maurícia mal podia dominar o resto das suas paixões, acesas de repente,<br />

quando elas as julgavam cinzas.<br />

— Meu coração ainda vice, por infelicidade minha! E devo eu matá-lo? Devo,<br />

sim, a felicidade de Virgínia exige-o. Devo asfixiá-lo com as duas mãos para que<br />

depressa expire. Mas qual será o meu estado depois da morte deste sentimento,<br />

que veio revelar-me tesouros de delícia íntima que me eram inteiramente<br />

desconhecidos? Que infortúnio não foi para mim ver esse homem!<br />

Deste solilóquio, meio racional, meio desvairado, despertou-a o estrondo<br />

produzido pelo bater da porteira.<br />

Havia já um minuto que ela andava dentro do cercado. Neste momento,<br />

confrontava com uma palhoça abandonada que pertencera a certo negro velho do<br />

engenho, e que ficava entre dois cajueiros ramalhudos à beira do caminho.<br />

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