O Sacrifício - Unama
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— Obrigado, obrigado, disse como quem acabava de entrar em um mundo de<br />
delícias, longamente esperadas. Lembre-se de mim. Não sou de todo inútil.<br />
— Olhe, tornou Maurícia. Não me enganei. Aí vem Virgínia com Sinhazinha.<br />
— Para onde vai, mamãe? Perguntou Virgínia, tanto que por entre árvores e<br />
sombras reconheceu Maurícia.<br />
— Eu ia a tua procura. Voltemos, voltemos.<br />
— Que é que diz, D. Maurícia? Interrogou Sinhazinha admirada. Voltar para<br />
onde?<br />
— Peço-lhe um obséquio, Sr. Dr. Ângelo, disse Maurícia, dirigindo-se ao<br />
bacharel. Dê o braço a Sinhazinha, e diga a Eugênia que um súbito mal — estar nos<br />
obriga a voltarmos inopinadamente. Eu estou realmente em termos de cair. Não, não<br />
lhe diga nada — acudiu logo. Vou já escrever-lhe.<br />
Sinhazinha não sabia o que pensar do que via e ouvia: e quando ia fazer<br />
novas interrogações, Maurícia abraçou-a, e, dando o braço a Virgínia, arrastou esta<br />
como quem fugia a um flagelo iminente.<br />
— Tornemos à casa de Martins, disse Ângelo à filha de D. Sofia.<br />
— Mas o que é isto? Que foi que houve?<br />
Ângelo nada respondeu. O que fez foi volver sobre seus passos sem demora.<br />
Maurícia e Virgínia tinham já desaparecido nas sombras da estrada.<br />
CAPÍTULO VIII<br />
Eugênia, vendo Sinhazinha entrar, levantou-se, foi ao seu encontro e,<br />
tomando-lhe o braço, encaminhou-se com ela para junto do salgueiro.<br />
Aí estavam a conversar à meia voz, quando uma escrava de D. Rosa lhe<br />
entregou um papel. Era a carta de Maurícia.<br />
Eugênia, na porta da casa, leu à luz que da sala se projetava até o pátio, as<br />
palavras seguintes:<br />
“Minha querida irmã”,<br />
Mal sabia eu que no meio da maior ventura que ainda encontrei na terra,<br />
reapareceu o dragão que já devorou os meus últimos bens e agora se propõe a<br />
devorar a minha existência.<br />
Fujo dele como quem foge de um mal mortífero. Não te canses em<br />
comunicar-me sua chegada. Eu já sei que ele está na terra. Fui eu a primeira que o<br />
vi; não; foi meu coração atemorizado, que adivinhou.<br />
Mas defende a minha causa como se fosse tua.<br />
Estas palavras vão ser-te entregues agora mesmo. Naturalmente, hás de lêlas,<br />
tendo o meu algoz a olhar para ti.<br />
Rogo-lhe que digas que eu o detesto hoje mais do que nunca.<br />
Tem coragem, minha irmã e amiga, para arrostar com o espectro que me<br />
persegue, ameaçando empolgar-me com suas garras que já uma vez me puseram<br />
as carnes em sangue.<br />
Não lhe digas onde eu moro, e seja teu particular empenho em dissuadi-lo de<br />
se aproximar de mim e tentar uma reconciliação, que tenho por impossível.<br />
Falta-me tempo e espaço para dizer-te tudo o que meu coração sente há um<br />
quarto de hora.<br />
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