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Marginalia - Curso Objetivo

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Quando, há meses, estive no Hospital Central do Exército, e vi em uma sua<br />

dependência, em gaiolas, coelhos de olhar meigo e cobaias de grande esperteza, para<br />

pesquisas bacteriológicas, lembrei-me daquele "Manel Capineiro", português carreiro de<br />

capinzais da minha vizinhança, que chorou, quando certa vez, ao atravessar a linha da Estrada<br />

de Ferro com o seu carro, a locomotiva matou-lhe os burros, a "Jupepa" e o "Garoto".<br />

"- Antes fosse eu! ai mô gado!" disseram-me que ele pronunciara ao chorar.<br />

Na sua manifestação ingênua, o pobre português mostrava como aquelas humildes<br />

alimárias interessavam o seu destino e o seu viver...<br />

Hoje, 17-4-1919.<br />

VII<br />

HISTÓRIA DE UM SOLDADO VELHO<br />

A literatura nacional possui obras maravilhosas que pouca gente conhece. Os livros<br />

conhecidos, citados e estimados, nada valem à vista dos que ficaram esquecidos e à mercê das<br />

traças das bibliotecas. Há muitos dessa literatura subjacente que talvez nem tenham chegado<br />

aos depósitos oficiais de livros e permaneçam nos desvãos poeirentos dos "sebos", sem<br />

encontrarem mão amiga que os traga para aquela forte luz da grande publicidade a que eles<br />

foram destinados ao nascer.<br />

Se me sobrasse fortuna e lazer tivesse eu, havia de andar pelas lojas de livros usados,<br />

a fazer descobertas dessas relíquias. Em falta de cronicons e códices manuscritos de antanho,<br />

havia de encontrar muita brochura curiosa e reveladora de novos predicados intelectuais de<br />

seus autores.<br />

Imagino que tal se desse, porque, entre os meus poucos livros, tenho uma brochura<br />

desconhecida, cujo valor é para mim inestimável.<br />

Todos os bibliófilos ricos do Rio de Janeiro podem comprar, nos leilões das livrarias<br />

das velhas famílias portuguêsas, manuscritos e "in-fólios", que interessem a qualquer período<br />

da nossa história; mas a minha - A redenção de Tiradentes, pelo Sr. Fernando Pinto<br />

de Almeida Júnior, nunca! É um drama histórico, em um prólogo, quatro atos e quatro<br />

quadros, original brasileiro, como diz na capa, e aprovado pelo Conservatório Dramático,<br />

tendo o "visto" da polícia. Foi impresso nesta cidade do Rio de Janeiro, na antiga casa<br />

Mont'Alverne, à rua Uruguaiana, 47, em 1893.<br />

Trata-se de uma obra filosófica, histórica, crítica, republicana e cívica, mais cívica<br />

do que as recentes canções militares que o carnaval fez esquecer. Prefaciado pelo falecido<br />

Figueiredo Coimbra, esse encouraçado literário é precedido por uma porção de "vedetas"<br />

explicativas e contratorpedeiras de ofertórios significativos. O autor, por longas páginas, com<br />

divisas adequadas e outras coisas, oferece o seu drama a Saldanha Marinho, Rui Barbosa,<br />

Lopes Trovão e mais sete próceres republicanos; e, além destes, a diversas pessoas de sua<br />

família, cuja conta não se pode bem fazer, pois há uma indeterminada dedicatória - "Às<br />

minhas filhas..." - o que não impede de chamar o seu único filho varão de "unigênito"...<br />

O seu autor era, ou parece ter sido, capitão do Exército. O Sr. Figueiredo Coimbra,<br />

no prefácio, trata-o sempre de Sr. capitão Almeida Júnior. Não tenho documento para afirmar<br />

que fosse do Exército; pode bem ser que fosse da Polícia ou da Guarda Nacional, mas tenho

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