Marginalia - Curso Objetivo
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sua irreligiosidade passada; é militante, é dirigida aos que pensam, aos condutores do<br />
pensamento nacional, no intuito, senão de convencê-los, ao menos de abalá-los no seu<br />
volterianismo ou agnosticismo.<br />
É, em substância, no sentido mais alto da palavra, uma obra política e o catolicismo<br />
de Petrópolis, por todos os meios, tem visado fins políticos, pacientemente, sorrateiramente.<br />
Ele tende à reforma da Constituição; até agora, contentara-se com disfarces na violação dos<br />
preceitos dela que interessam ao Catolicismo; nos dias atuais, porém, aproveitando o mo-<br />
mento de angústias que atravessamos, quer obter a vitória completa.<br />
Sem que nada me autorize a tal explicitamente, eu filio Penso e Creio à ação do<br />
partido que se esboça aí com o título de nacionalismo. A Igreja quer aproveitar ao mesmo<br />
tempo a revivescência religiosa que a guerra trouxe, e a recrudescência exaltada do<br />
sentimento de pátria, também conseqüência dela, em seu favor aqui, no Brasil.<br />
O tal partido, pelos seus órgãos mais autorizados, está sempre a apelar para as<br />
tradições católicas de nossa terra; e nao é difícil ver nisso o desejo de riscar da carta de 24 de<br />
Fevereiro a separação do poder temporal do espiritual e suas conseqüências, como: o<br />
casamento civil e o ensino oficial inteiramente leigo.<br />
O culto à brasilidade que ele prega, é o apego à herança do passado de respeito, não<br />
só à religião, mas também à riqueza e às regras sociais vigentes, dai a aliança da jovem<br />
fortuna, representada pelos improvisados ricaços de Petrópolis, com a Igreja. Mas tal culto<br />
tende a excomungar, não o estrangeiro, mas as idéias estrangeiras de reivindicações sociais<br />
que são dirigidas contra os cresos de toda a ordem. O Jeca deve continuar Jeca, talvez com um<br />
pouco de farinha a mais.<br />
Estas reformas me parecem odiosas e sobremodo retrógradas. Dado que a maioria<br />
dos brasileiros seja verdadeiramente de católicos, decretada como oficial a Igreja Romana,<br />
mesmo toleradas outras seitas, é evidente que há em semelhante ato uma violência<br />
inqualificável contra a consciência individual, por parte da massa que nem sempre está com a<br />
razão - coisa que, como ameaça, me causa apreensões e, como fato consumado, não pode<br />
deixar de revoltar um liberal como eu.<br />
Entretanto, o Sr. Perilo Gomes não trata dessas questões claramente, como já disse;<br />
mas, remotamente, se ligam a elas algumas das suas afirmações.<br />
Por isso, julgo não ser demais fazer as observações que acima ficam, já que se me<br />
oferece pretexto para fazê-las, definindo de vez o meu humilde pensamento em face da<br />
agitação católico-nacionalista que está empolgando todos que no Brasil tem alguma<br />
responsabilidade mental.<br />
Estaria e estou de acordo com o Sr. Perilo, quando afirma que a ciência não satisfaz;<br />
que ela parte do mistério e acaba no mistério; e que, fora dela, há muitas razões de crer em<br />
Deus e de obedecer à revelação da voz divina na nossa consciência; mas, no que não estou de<br />
acordo com o Sr. Perilo, é em afirmar ele que essa revelação de Deus em nós, só nos pode<br />
levar ao catolicismo. Não sei por quê!<br />
Para os que nasceram na religião católica e a abandonaram, ao se sentirem tocados<br />
pela graça divina, por isto ou aquilo, é muito natural que voltem a ela. Mas, se o convertido<br />
ou arrependido de irreligiosidade, nasceu no islamismo ou na igreja grega voltaria para o<br />
catolicismo ou para o maometismo ou para a igreja ortodoxa? A resposta não se faz esperar:<br />
ele voltaria para a doutrina religiosa em que foi educado.<br />
As religiões são expressões humanas de Deus, mas não Deus mesmo. É minha<br />
desautorizada opinião, em matéria que muito pouco tenho meditado e muito menos pensado.<br />
No argumento, aliás muito antigo, de que a maioria dos homens eminentes em toda a<br />
sorte de atividades teóricas e práticas, crê ou têm crido em Deus, o autor não faz entre eles a<br />
separação dos católicos, dos protestantes, dos simples deístas, dos religiosos de qualquer<br />
espécie.