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Marginalia - Curso Objetivo

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A usina, "abbaye" ou coisa que o valha, começou a funcionar, segundo regras de<br />

uma particular mecânica aplicada, cuja teoria geral convém pedir emprestada ao autor.<br />

Ei-la num exemplo:<br />

"Trata-se de aliviar dito indivíduo (um coronel) dos seus 1 35$OOO por um<br />

processo automático mecânico; isto é, sem nenhuma força a mais, além de cocotte,<br />

champanha, coronel. A operação executa-se em três fases: Fase A - Cocotte engrena coronel.<br />

Resistência ao rolamento - lOO$OOO. Resultante: contração, movimento retardado. Fase B -<br />

Cocotte engrena champanha, champanha engrena coronel. Resistência inicial - 30$OOO.<br />

Resultante: atração, movimento giratório cerebral. Fase C - Coronel engrena cocotte.<br />

Resistência final 100$000. Resultante: convulsão, movimento ascensional acelerado."<br />

Diz Hilário Tácito que esse mecanismo é o mais perfeito que se possa imaginar,<br />

pois, de 135 mil-réis de combustível, aproveita 130 em trabalho útil, e só se perdem cinco na<br />

gorjeta.<br />

Realizando esta obra portentosa, Mme. Pommery rapidamente começou a influir nos<br />

destinos da sociedade paulista e, indiretamente, em toda a comunhão brasileira.<br />

A Finança, a Valorização, o Bar Municipal, a Moda, o Carnaval, a Política recebiam<br />

o seu influxo e a ele obedeciam; e, não lhe sendo bastante isto, transformaram-na em<br />

educadora, em afinadora de maneira dos rapazes ricos, pois, como diz o autor:<br />

"Ora, por estes efeitos indiretos o prestígio de Mme. Pommery transcendeu<br />

desmesuradamente. Cursar o "Paradis Retrouvé" ficou sendo, no conceito geral da gente fina,<br />

um titulo de merecimento e remate indispensável de toda a educação aprimorada.<br />

"A sociedade de Ninon de Lenclos gozou da mesma opinião favorável do seu século.<br />

Mas devemos reconhecer que Mme. Pommery granjeou igual estima por meios muitíssimo<br />

mais práticos; pois nem filosofou, nem escreveu. E, sem ser tão bela, segundo a fama,<br />

alcançou contudo um grau de superioridade superior ao de Ninon."<br />

Assim, Mme. Pommery influiu sobre as várias e todas as partes da sociedade, exceto<br />

sobre os literatos, naturalmente sobre os paulistas, porque, sobre os daqui, estou informado de<br />

gente limpa que ela influiu dadivosamente. dando até a certo e determinado um principado em<br />

Zanzibar, por ocasião da assinatura do Tratado de Versalhes, além de favores que prestou a<br />

outros para escrever futuramente as suas magníficas obras...<br />

É tempo, porém, de falar de um modo geral de tão curioso livro. Seria estulto querer<br />

encarar semelhante obra pelo modelo clássico de romance, à moda de Flaubert ou mesmo de<br />

Balzac. Nós não temos mais tempo nem o péssimo critério de fixar rígidos gêneros literários,<br />

à moda dos retóricos clássicos com as produções do seu tempo e anteriores.<br />

Os gêneros que herdamos e que criamos estão a toda a hora a se entrelaçar, a se<br />

enxertar, para variar e atrair. O livro do Sr. Hilário Tácito obedece a esse espírito e é esse o<br />

seu encanto máximo: tem de tudo. É rico e sem modelo; e, apesar da intemperança de<br />

citações, de uma certa falta de coordenação, empolga e faz pensar. Vale sobretudo pela<br />

suculenta ironia de que está recheado, ironia muito complexa, que vai da simples malícia ao<br />

mais profundo "humour" em que assenta afinal o fundo de sua inspiração geral.<br />

Não quero mais tratar dele, embora ainda pudesse dizer muito e ele o merece.<br />

Bebe-se muita champanha em casa de Mme. Pommery; e eu me lembro de um caso de boêmia<br />

que um camarada me contou.<br />

Certo doudivanas "pronto", num belo dia, jogou na "centena" e ganhou. Encontrou<br />

uns amigos e convidou-os a beber. Beberam champanha, como na casa de Mme. Pommery.<br />

Num dado momento, o anfitrião levantou-se e convidou:<br />

- Vamos tomar uma "lambada".<br />

- Como? Não há mais dinheiro? - perguntou um dos outros que queria "morder".<br />

- Há.<br />

- Então?

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