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Marginalia - Curso Objetivo

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"O papel de pintor coube ao Paiva, que o encarnou muito bem, de carmim nos<br />

lábios, gravata preta e olhar romântico. O conde era um rapaz alto, de cabeleira, aprendiz de<br />

alfaiate. Ele queria à viva força possuir a fresca mulher do pintor, que resistia tenazmente,<br />

apesar do ouro oferecido. Uma noite, não podendo sufocar o seu desejo, penetrou<br />

audaciosamente no humilde lar do artista e quis forçá-la, recebendo uma grande bofetada. O<br />

pintor casualmente entra no momento, e raivoso, alucinado, - o que o Paiva fez muito bem -<br />

quer estrangular o fidalgo.<br />

A mulher fiel pede-lhe, de joelhos, que não o faça.<br />

O conde, humilhado, ali mesmo saca do revólver e suicida-se.<br />

"Quando o pano caiu a platéia aplaudia delirantemente, vertendo lágrimas de<br />

emoção."<br />

Com tantas e superiores qualidades, é de esperar que o Sr. Ranulfo Prata venha a ser<br />

um grande romancista, a quem aconselho abandonar toda a preocupação de elegâncias para só<br />

atender o que é propriamente de sua arte: a alma humana e os costumes.<br />

Tive com a leitura do seu livro o máximo prazer e espero que se repita em um<br />

segundo livro que, em breve, estou certo, ele nos dará.<br />

Se ainda lhe falta, talvez, uma profunda e sagaz visão da vida, sobram-lhe outras<br />

qualidades de escritor que suprem aquela falta.<br />

Com o tempo, o jovem escritor corrigirá os defeitos e nós teremos um grande<br />

romancista digno das nossas letras e dos destinos da nossa língua.<br />

É desejo de quem escreve estas ligeiras notas e o faz ardente e sinceramente.<br />

A.B.C., 28-9-1918.<br />

O SECULAR PROBLEMA DO NORDESTE<br />

O Sr. deputado Ildefonso Albano mandou-nos a 2.a edição, como já mandara a<br />

primeira, do seu excelente discurso sobre O Secular problema do nordeste. Não é bem o que<br />

nós, merecidamente, com os nossos costumes de Assembléias e Câmaras Legislativas,<br />

chamamos discurso. É aquilo que os antigos chamavam por esse nome, isto é, uma<br />

dissertação, menos do que um "tratado", mas que toca em todos os pontos do tema presente.<br />

E eu me atrevo a lembrar, para elucidar o que afirmo, o Discours sur 1'histoire<br />

universelie, de Bossuet; e o Discours sur la méthode, de Descartes. Ambas essas obras são<br />

clássicas e conhecidas de todos; e creio não haver a mínima exibição de sabença, ao citá-las<br />

aqui.<br />

A obra do Sr. Ildefonso Albano é, pois, um quadro muito vasto desse atroz problema<br />

das secas chamadas do Ceará, que de há muito deviam ter preocupado todos nós brasileiros,<br />

de norte a sul, de leste a este, em todos os pontos do nosso território.<br />

Nós não podemos estar limitados a, quando elas aparecem, organizarmos bandos<br />

precatórios, festivais de caridade, mais ou menos mundanos, oferecer terra e trabalho aos<br />

"retirantes", despovoando uma grande região do Brasil, para povoar ou encher de necessitados<br />

outras.<br />

Todas as que têm aparecido já deviam ter nos ensinado que o caminho era outro e os<br />

trabalhos que lá se têm feito e não têm resultado palpável, já nos deviam também ter ensinado<br />

que tais trabalhos, por serem mofinos e mesquinhos, deviam ter seguido outra orientação mais<br />

ampla e audaciosa.

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