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Marginalia - Curso Objetivo

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O Sr. Antônio Higino, natural do Rio Grande do Norte, que é hoje contínuo do<br />

gabinete do Ministro da Guerra e foi praça do exército, há anos, narrou-me um conto passado<br />

entre os dois dos mais expressivos.<br />

Ei-lo:<br />

"O MACACO E A ONÇA<br />

Andava o macaco, como sempre, de implicância com a onça, e a onça com o<br />

macaco. Um belo dia, o felino veio a encontrar o símio trepado em um galho de pau, a tirar<br />

cipós.<br />

- Que fazes aí, compadre macaco? - perguntou a onça.<br />

- Ah! então tu não sabes, comadre onça, o que estou fazendo? Trato da minha<br />

salvação...<br />

- Como?<br />

- Pois não tens notícias de que Nosso Senhor vai mandar um pé de vento muito forte<br />

e só se salvará quem estiver bem amarrado?<br />

Amedrontada e por não ter mão com que ela própria se atasse, a onça pediu<br />

imediatamente:<br />

- Então, compadre macaco, amarra-me também para eu não morrer... Tem pena de<br />

mim que não tenho mãos! Amarra-me também pelo amor de Deus!<br />

O macaco obteve todas as juras e promessas que a comadre não lhe faria nenhum<br />

mal e desceu para atá-la num tôco de pau. À proporção que a ia amarrando, perguntava:<br />

- Comadre, você pode se mexer?<br />

A onça fazia esforços para desvencilhar-se, e o macaco atava mais fortemente o<br />

lugar que lhe parecia mais frouxo. Assim pôde conseguir amarrar a comadre, sem que esta,<br />

por mais que quisesse, pudesse fazer o mínimo movimento.<br />

Vendo-a bem amarrada, o macaco apanhou um cipó bem grosso, deu na onça uma<br />

valente surra e fugiu em seguida.<br />

As outras onças conseguiram soltar a irmã, e esta jurou a seus deuses vingar-se do<br />

macaco.<br />

Veio uma seca muito grande e a onça, para pilhar o símio e cevar nele o seu ódio<br />

recolhido, pôs-se de alcatéia num único lugar em que havia água. Todos os animais iam até ali<br />

desalterar-se, sem serem incomodados pelo felino: mas o macaco, muito atilado e esperto, não<br />

foi, adivinhando o que o esperava.<br />

Apertando-lhe a sede, entretanto, ideou um ardil para ir até à cacimba saciá-la.<br />

Tendo encontrado um pote de melaço, besuntou todo o seu corpo com ele e, depois,<br />

espojou-se num monte de folhas secas, que se lhe grudaram aos pêlos.<br />

Disfarçado desse modo, encaminhou-se para o bebedouro; a onça desconfiou<br />

daquele animal, mas não saiu da tocaia, limitando-se a perguntar:<br />

- Quem vem lá?<br />

O macaco com voz simulada, mas segura, respondeu:<br />

- É o ará.<br />

Ará é o que nós chamamos ouriço-caixeiro, com o qual a onça não tem implicância<br />

alguma.<br />

O suposto ouriço muito calmamente abeirou-se do poço e pôs-se a beber água a<br />

fartar, no que se demorou muito.<br />

Comadre onça começou a desconfiar de tal bicho, que bebia tanta água, e exclamou<br />

admirada:

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