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Marginalia - Curso Objetivo

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Ele não mais se diverte inocentemente; o subúrbio se atordoa e se embriaga não só<br />

com o álcool, com a lascívia das danças novas que o esnobismo foi buscar no arsenal da<br />

hipocrisia norte-americana. Para as dificuldades materiais de sua precária existência, criou<br />

esse seu paraíso artificial, em cujas delícias transitórias mergulha, inebria-se minutos, para<br />

esperar, durante horas, dias e meses, um aumentozinho de vencimentos...<br />

Gazeta de Notícias, 7-2-1922.<br />

O NOSSO CABOCLISMO<br />

Uma das manias mais curiosas da nossa mentalidade é o caboclismo. Chama-se isto<br />

a cisma que tem todo o brasileiro de que é caboclo ou descende de caboclo.<br />

Nada justifica semelhante aristocracia, porquanto o caboclo, o tupi, era, nas nossas<br />

origens, a raça mais atrasada; contudo toda a gente quer ser caboclo.<br />

Muito influíram para isso os poetas indianistas e, sobretudo, o grande José de<br />

Alencar, o primeiro romancista do Brasil, que nada tinha de tupinambá.<br />

A mania, porém, percorreu o Brasil; e, quando um sujeito se quer fazer nobre, diz-se<br />

caboclo ou descendente de caboclo.<br />

Em matéria de caboclismo, além do Guarani de José de Alencar, só gosto do<br />

Uruguai de Basílio da Gama, sobretudo quando fala da morte de Lindóia em cujo rosto a<br />

Morte era mais bela.<br />

Entretanto, no Brasil, atualmente, há uns caboclistas muito engraçados. Um deles é o<br />

Sr. Rondon, hoje general, que tem um ar feroz de quem vai vencer a batalha de Austerlitz.<br />

O general Rondon nunca venceu batalhas, e não as vencerá, porque o seu talento é<br />

telegráfico. Não há general como ele para estender linhas de telégrafo; mas não há também<br />

general como ele, para catequizar caboclos.<br />

Até hoje, essa missão estava reservada aos religiosos de toda a espécie; mas foi<br />

preciso que o Brasil se fizesse republicano para que tal coisa coubesse aos oficiais do<br />

Exército.<br />

Rondon catequista é um grande general e o general Rondon é um grande catequista.<br />

Aí não é o sabre que cede à toga; é a batina que se vê vencida pelo sabre.<br />

Quando Rondon foi chefe da Comissão das Linhas Telegráficas, só em milho, ele<br />

gastava mais de quinhentos contos por ano, porquanto tinha intensificado a agricultura entre<br />

os Nhambiquaras.<br />

Sei disto porque nesse tempo era eu empregado da Secretaria da Guerra e vi os<br />

papéis a tal respeito.<br />

Toda a gente, porém, admira Rondon porque sabe andar léguas a pé; contudo, acho<br />

eu que essa virtude não é das mais humanas.<br />

O que o general Rondon tem de mais admirável, é a sua fisionomia de crueldade.<br />

Vê-se nele a sua vocação de ditador e ditador mexicano. Tudo o está levando para isso,<br />

inclusive as suas descobertas já descobertas e a sua determinação de coordenadas de certos<br />

lugarejos pelo telégrafo, coisa pouco sabida e conhecida.<br />

Depois de tão excepcional caboclista, só há a Sra. Deolinda Daltro.<br />

Nunca se viu pessoa tão conspícua no caboclismo. A seriedade do seu ideal, o<br />

desinteresse que ela põe nele, além de outras qualidades e artefatos, dão-lhe um destaque<br />

excepcional.<br />

D. Deolinda acaba de se apresentar candidato a intendente da cidade do Rio de<br />

Janeiro.

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